Os Quedes Vermelhos da Tchi é mais um continho de infância de Ondjaki, e este é francamente bom. Conta, da forma suave e ternurenta que já vai sendo habitual, a participação do seu jovem protagonista nas celebrações oficiais do 1º de Maio, numa Luanda muito mergulhada nos rituais do bloco socialista. Mas, num segundo nível de leitura, é também uma muito subtil tomada de posição política, que se serve dos sapatos (os quedes são uma espécie de sapato) para fazer alusão ao clima político da época, pois o jovem vai, feliz e contente, participar na festa levando os sapatos vermelhos da irmã, apesar de estes lhe estarem apertados e lhe magoarem os pés. A sublinhar essa leitura, o conto fecha com um parágrafo de três palavras: "Antigamente, eu ia." Só isto.
Esta é uma historinha mais complexa que a maioria das restantes, e por isso mesmo, parece-me, melhor.
Contos anteriores deste livro:
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