Putois é um muito irónico conto de Anatole France sobre a forma como as histórias, por mais mitológica — ou, por outras palavras, mentirosa — que a sua origem possa ser, mostram uma curiosa tendência para se transformarem em realidade. De certa forma. Putois é um homem que um belo dia alguém inventou para se ver livre de um importuno e que, como quem conta um conto acrescenta um ponto, depressa ganhou não só nome mas aspeto físico, comportamento e personalidade. De vadio, trabalhador eventual de pouca confiança, o bom do inexistente Putois depressa passa a ladrão, perseguido pela polícia em toda a região.
O conto não só é bastante divertido, como também tem uma profundidade considerável, mergulhando bem fundo na natureza maleável da memória, na psicologia, tanto individual como coletiva, e na origem e poder das religiões. Uma bela surpresa.
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