terça-feira, 23 de maio de 2017

Lido: A Casa de Hóspedes

Na minha permanente busca por publicações onde possa estar incluído material relevante para o Bibliowiki, por vezes pego em coisas que leio sem grande esperança de a encontrar, pelo menos fora de um punhado de suspeitos habituais que nelas possam estar publicados. Esta foi uma delas. Como verão mais adiante, encontram-se aqui alguns escritores com presença razoavelmente relevante no nosso fantástico, portanto esperava vê-lo nas ficções deles. O que não esperava era encontrá-lo logo no primeiro conto.

A Casa de Hóspedes contém uma mistura curiosa entre um começo e meio que parece quase antecipar de algumas décadas o neorrealismo, com a sua plétora de personagens muito solidamente enraizados na vida quotidiana das camadas populares e um pendor ideológico claramente favorável à emancipação dessas camadas, carregado de filosofia, com o cuidado com a caracterização psicológica das personagens que é característico do mainstream literário, e um final com características fantásticas bem marcadas, em que uma personagem pensa ver um rasto, uma espécie de cauda de cometa, atrás de cada transeunte que passa, contendo, e mostrando a quem conseguir ver, o seu passado e o que são. Um fantástico todoroviano, que deixa no ar a dúvida sobre se será mesmo assim ou tudo não passa de ilusão da personagem.

Acresce a isso a prosa de Raúl Brandão, que é magnífica, e o resultado é um belo conto.

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