Se eu fosse francês manteria agora tudo o que escrevi aqui, com uma diferença crucial. Macron, com uma primeira semana de campanha para a segunda volta absolutamente estapafúrdia, deu o flanco a Le Pen. E se durante muito tempo as notícias sobre a subida das intenções de voto nesta última pareciam ser sobretudo alarmismo dos cronicamente assustados, neste último par de dias essa subida parece ter-se concretizado de facto. O boneco abaixo, retirado daqui e construído a partir de uma sondagem regular cujo principal fator de interesse é mostrar a evolução das intenções de voto ao longo do tempo, eliminando coisas como house effects e efeitos de amostragem, parece mostrá-lo. É certo que Le Pen só subiu até níveis próximos aos que já tinha tido a 10 de abril, é certo que ainda é cedo para que a subida se confirme de facto (pode perfeitamente seguir-se-lhe uma descida igual; já aconteceu antes), mas a possível chegada de Le Pen aos 42-43% retira do zero a possibilidade de ser ela a ganhar as eleições. E isso muda tudo.
Se eu fosse francês, por conseguinte, estaria hoje bem mais próximo de me decidir a votar Macron (de nariz tapado e com um bombom na boca para afastar o fel) do que há dias. Mas sobretudo, iria seguir com enorme atenção a evolução desta sondagem nos dias que faltam. Se Le Pen subisse mais alguma coisa, quer a tendência continuasse a ser de subida quer fosse de estabilização, o meu voto ficaria decidido e seria em Macron. Se voltasse a descer, manter-me-ia inclinado ao voto branco ou nulo. E aí a indecisão manter-se-ia até à cabine de voto porque poderia bastar mais uma gaffe de Macron ou de algum dos seus próximos ou a costumeira ajudinha dos terroristas à extrema-direita para mudar muita coisa. E para me forçar também a votar Macron.
Se eu fosse francês, uma coisa seria certa: neste momento estaria um bom bocado deprimido.
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