Quase todos os contos populares, de uma forma ou de outra, em maior ou menor grau, são moralistas. Mas raramente isso é tão claro como neste A Mãe Holle que, segundo a extensa nota que os Irmãos Grimm lhe agregaram, na qual dão conta de uma vasta bibliografia de variantes e histórias aparentadas, nem terá sido muito alterado relativamente à versão recolhida junto da população. A Mãe Holle é uma bruxa, habitante de um reino mágico ao qual se tem acesso através de um poço, mas as verdadeiras protagonistas da história são duas raparigas, não quem lhe empresta o título. Duas raparigas que vivem na mesma casa casa, uma filha da mulher da casa, a outra enteada, a primeira feia e preguiçosa, a segunda bela, trabalhadora e com vários pontos de contacto com a Gata Borralheira.
Na história não há grande surpresa: depois de a enteada se ter atirado ao poço para recuperar uma roca e ido parar ao tal reino mágico, onde a sua natureza bondosa e trabalhadora acaba recompensada com ouro pela bruxa, o que se segue é tão previsível como dois e dois serem quatro, e nem seria preciso já conhecer, através d'A Gata Borralheira, o que acontece às filhas que maltratam meias-irmãs. Precisam que eu explique? Não, pois não? Então pronto.
Não é dos contos que mais me tenham agradado, como facilmente se compreenderá, mas até tem umas características agradáveis. Há nele umas pitadas de lengalenga, mas estão bem camufladas e por aí escapa. E, previsível ou não, é um conto bem estruturado, o que nem sempre acontece nos contos tradicionais em estado bruto. Mas sê-lo-á este conto? Pouco provável: falamos dos Grimm, e se foi pouco alterado, como parece ter sido, isso não quer dizer que não o tenha sido de todo.
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