Alguns destes contos pupulares, sejam portugueses, sejam de outros povos, parecem ser pouco mais que esboços de histórias possíveis ou de farrapos de histórias mais antigas, o pouco que resta de antigas epopeias. Outros, porém, são contos razoavelmente complexos, com começo, meio e fim, mesmo que as partes de que são feitos pareçam ter sido reaproveitadas de outras histórias.
É este último o caso de A Sina.
Adolfo Coelho não tem fama de retocar as histórias que recolheu, ao contrário dos Irmãos Grimm, mas apesar disso este conto nada deve aos dos alemães no que toca à qualidade narrativa. Tudo começa com um rei que, obedecendo à tradição, manda ler a sina dos dois filhos (um menino e uma menina) após o nascimento. Não contente com a leitura, procura enganar o destino, encerrando a filha numa torre do castelo e pondo o filho num caixão, que deita a um rio com a criança ainda viva. Geram-se assim duas sub-histórias, que vão convergir na sina que intitula o conto. A da filha parece uma adaptação ou variante da célebre história de Rapunzel; a do filho também ressoa a lenda conhecida, ainda que de uma forma mais vaga; são várias as histórias que têm como protagonistas crianças perdidas, frequentemente de sangue real, criadas por gente humilde. Tudo somado, este é um bom conto de fadas que, se não contivesse tantos elementos tão usados em histórias tradicionais e em ficções que delas derivam, poderia dar origem a uma boa novela, ou até romance, de fantasia.
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