Alexandra Pereira parece ter a mania de dedicar contos a escritores famosos que mais que provavelmente nunca os lerão (até porque muitos já morreram e depois de mortos, convenhamos, torna-se difícil). Depois de dedicar o anterior a Gabriel García-Márquez (lá está; já morreu), este segue com um beijinho para Enrique Vila-Matas, que, vá lá, ainda está vivo. Cada um com a sua mania, como se costuma dizer, mas pelo menos esta é benigna. Há piores.
E este conto até é bom. O Músico Naufragado é precisamente sobre o que o título indica: um pianista polaco que descreve em primeira pessoa o que sentiu e pensou quando o barco em que seguia foi ao fundo no Mar do Norte. É um conto intimista, mas que conta uma história entre os pensamentos, desabafos e arremedos de sinestesia do protagonista-narrador. Bastante bem escrito, sem o mínimo diálogo que pudesse tentar a autora a substituir falas concretas de seres humanos por arroubos discursivos de títeres de papel, este conto funciona bastante bem, incluindo até os apartes entre parêntesis que
(coisas destas, não sei se estão a ver)
passam o conto inteiro a imiscuir-se na narrativa. Esta forna de narrar não é coisa que me agrade quando não está bem feita, mas quando está, e para estar é preciso que faça sentido e seja usada com motivo, pode resultar bastante bem e melhorar o texto. E é o caso neste conto.
Quanto a géneros, o que me interessa quando for introduzir este livro no Bibliowiki à conta do conto anterior e dos mais que adiante se verão, se visto sob um certo ponto de vista julgo que se pode achar que este conto se aproxima do horror (o homem apanha um grande susto, afinal), mas a mim parece ser fundamentalmente um conto realista. Mas bom.
Contos anteriores deste livro:
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