De Herberto Helder esta antologia apresenta O Quarto, um conto razoavelmente curto, com subtis elementos fantásticos e surreais, que consiste basicamente de um diálogo mais ou menos platónico no qual o protagonista explica à outra personagem que planos tem para a sua própria morte. É uma história que explora a ideia de raízes e, de certa forma, a velha noção cristã de que "do pó viemos, ao pó voltaremos." Não vale grandemente a pena escalpelizar aqui as ideias contidas no conto; elas ficam bastante claras com a leitura, com exceção das religiosas, que são contraditórias, pelo menos à superfície: o protagonista primeiro afirma que não acredita em nada para na página seguinte se afirmar religioso. Isso, no entanto, é secundário. O mais importante é que se trata aqui da morte e da espécie de morte em vida que são as crescentes limitações, por vezes autoimpostas, que nos vão sobrecarregando à medida que avançamos em idade. De raízes. Do chamamento da Terra a que acabaremos inevitavelmente por ceder. Não é um conto particularmente agradável de ler. Mas é daqueles contos que nos deixam a pensar, pelo menos até voltarmos a ser distraídos pelas campainhas multicoloridas do mundo moderno.
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