Lídia Jorge apresenta o único conto inédito entre os trinta que compõem esta antologia. E é um conto fantástico. O protagonista de Os Dois Viajantes é um engenheiro de estradas, como não se cansa de repetir nesta narrativa em primeira pessoa, que um belo dia é chamado à terra natal, uma aldeola qualquer perdida algures, por um velho amigo de infância que se encontra moribundo. E que lhe quer, o amigo? Vê-lo? Não. Quer que lhe confirme que na sua vida existiu realmente um prodígio, que este não foi mero fruto de uma imaginação gabarola, que ele realmente conseguiu levantar um comboio à pura força de braços. Não que este elemento insólito fique inteiramente assente como facto provado; o fantástico aqui é daqueles que pretendem deixar no ar alguma dúvida. Todorov acenaria a sua aprovação. E vem acompanhado, falo do fantástico, por uma prosa palavrosa, labiríntica, mas de qualidade no trato da língua. Há quem goste de prosa assim, há quem não goste nada; para mim, é um estilo que, não havendo muito cuidado, facilmente se pode tornar cansativo em textos longos. Mas como este não o é funciona bastante bem.
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