quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Lido: Cristais Como Nós

Imagem verde e negra ali ao lado e quem está por dentro já sabe: aí vem mais um conto da Alexandra Pereira com mais uma dose de dedicatórias mais ou menos passíveis de encontrarem o alvo, algures nos corredores da vida. Desta feita são dois os contemplados: um Rui Horta que assim de repente não estou a ver quem seja (será o coreógrafo? Na volta...) e um tal Eduardo Agualusa que se lhe antepusermos um José não tem mistério.

O conto é realismo mágico que só não é puro porque o conto contém também elementos razoavelmente fortes de surrealismo. Fazendo jus ao título de Cristais Como Nós (que tem um subtítulo mais misterioso, Aula de Geologia Social), fala de uma família na qual "a mãe é transparente, o pai transparente e o filho cor de vidro" e que vive no Bronx. E aproveita o falar dessa família concreta para descrever todo um mundo transparente que existirá, invisível, a par do opaco.

Contrariamente ao anterior, este conto é bom. Porque não se deixa levar por exageros de lirismo (o qual não deixa de estar presente), porque está carregado de ironia, porque se utiliza da ideia do mundo transparente paralelo para lançar penetrantes alfinetadas à sociedade em que vivemos (teoricamente será àquela em que vivem os habitantes do Bronx, Nova Iorque, mas para todos os efeitos práticos a diferença para a nossa não é grande) e às barreiras entre os grupos sociais. Não fosse a prosa por vezes tão enovelada, poderia mesmo achá-lo muito bom. Não só mas também porque é um daqueles casos de utilização bem sucedida dos mecanismos característicos da literatura fantástica para matutar sobre o presente bem concreto das coisas.

Alexandra Pereira oscila bastante de conto para conto (e quem não oscila?). Este é um ponto alto.

Contos anteriores deste livro:

Sem comentários:

Enviar um comentário

Por motivos de spam persistente, todos os comentários neste blogue são moderados. Comentários legítimos passam, mas pode demorar algum tempo. Como sempre acontece, paga a maioria por uma minoria de abusadores. Parece ser assim que o mundo funciona, infelizmente.