quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Lido: O Céu é uma Estrada Aberta

Pode o potencial de um escritor ser avaliado pelo primeiro conto que publica? Quem, por exemplo, leu os primeiríssimos contos de George R. R. Martin, e eu li, certamente concordará comigo que não. Nada nesses contos fazia prever que anos mais tarde ele seria um dos escritores mais interessantes e aclamados do género. Mas é possível que cada caso seja um caso e em alguns casos a resposta seja sim. Dave Wolverton, por exemplo, ajuizando por este seu O Céu é uma Estrada Aberta (bibliografia) inaugural, seria um escritor com grande potencial.

Não que o conto seja excelente, longe disso, mas está entre o razoável e o bom. É decerto melhor e tem mais conteúdo do que os primeiros contos de Martin, pelo menos. Escrito num ambiente de space opera que faz lembrar ora o universo de Star Wars ora o de Duna, é um conto que reflete sobre a moralidade de assassinar um assassino genocida. Wolverton mostra já um domínio seguro da narrativa e a maturidade suficiente para entregar ao leitor a informação necessária, nem a mais, nem a menos, no momento certo. O protagonista é um escravo que trafica uma substância altamente explosiva chamada cobahite, capaz de arrasar continentes inteiros e, embora as restantes personagens me pareçam algo unidimensionais, o protagonista, árabe de um planeta distante, muçulmano, está bem caracterizado e é razoavelmente complexo.

Uma estreia auspiciosa, portanto. E, de facto, desde este conto publicado em 1985 e os dias de hoje, Dave Wolverton tem tido uma carreira razoavelmente produtiva, usando para boa parte da qual o pseudónimo David Farland. Mas não parece ter produzido nada em que realmente se revele o potencial sugerido neste conto. Muitos trabalhos derivativos, na FC (especialmente na space opera) e na fantasia, livros integrados no universo de Star Wars, uma ligação longa com L. Ron Hubbard (é ele o editor de muitas das antologias Writers of the Future) e pouco mais indicam um escritor com sucesso comercial mas sem verdadeira importância. Portanto a resposta à pergunta que abre este texto, se calhar, continua a ser "não."

Seja como for, este conto em particular tem real interesse.

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