terça-feira, 10 de outubro de 2017

Lido: O Foguete

Em O Foguete (bibliografia), Ray Bradbury regressa ao puro maravilhamento dos primeiros contos deste livro, mas aqui a abordagem é diferente. Fiorello Bodoni é pobre mas tem o sonho do espaço. Todos na sua família o têm, aliás; aquela vontade de partir e viajar entre os planetas, ver coisas novas, ter uma aventura. Mas Fiorello Bodoni é pobre. Não tem dinheiro para um foguete, e por isso está condenado, ele e toda a família, a permanecer a vida inteira preso à terra. Até que um dia tem uma ideia e gasta nela todas as parcas economias, comprando num ferro-velho um velho foguete avariado.

Este é um conto sobre o poder da imaginação, sobre como, à falta de capacidade para termos as experiências reais, podemos sempre optar por simulações e, com uma ajudinha da imaginação, ficamos felizes na mesma. Se fosse escrito mais tarde, este conto provavelmente contaria com realidades virtuais ou sistemas de imersão, mas é um conto de 1950, e portanto a saída que a personagem de Bradbury encontra para o seu dilema assemelha-se mais a uma atração de feira particularmente sofisticada.

É outro conto bastante bom, sim, embora eu o julgue um degrauzinho abaixo dos anteriores. Mas também é mais um conto que me deixa uma certa amargura ao fundo da consciência quando tento perceber para onde foi este otimismo pelo futuro, o que aconteceu à esperança que nestas ficções de Bradbury subsiste mesmo em situações de carência. É mais fácil escrever ficção sombria em ambientes desesperantes? É: o conflito dramático está criado à partida. Mas Bradbury prova (se fosse preciso) que essa não é a única forma de fazer boa FC e boa literatura em geral. E enquanto espécie estamos desesperadamente carentes de algum otimismo, nem que seja na ficção.

Contos anteriores deste livro:

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