terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Rafael Alexandrino Malafaia: /foradosistema

Já não me lembro nem de quando nem de como este conto me veio parar ao disco rígido do computador, embora o ficheiro PDF em que está contido traga data de 2019 e apesar do próprio conto vir datado de 2015. Uma busca na web pelo título também não dá resultados, apesar de /foradosistema ser um título incomum o suficiente para ter potencial para se destacar. Também não encontro nada no meu email. E não conheço o autor, Rafael Alexandrino Malafaia, sei apenas que é brasileiro. Ou que escreve em português do Brasil, o que vai dar quase ao mesmo. É um mistério. Um mistério que me despertou curiosidade suficiente para o ler. E...

Bem...

Partindo do princípio de que isto foi publicado de alguma forma e me chegou assim (se não foi, se eu descobrir entretanto que me foi simplesmente enviado, este texto poderá vir a ser apagado sem aviso, pois não tenho por hábito comentar publicamente textos que não foram tornados públicos), devo dizer que não foi leitura que me tenha agradado.

OK, tem alguns elementos com um certo interesse. A história contada em jeito de relatório (ou, como o próprio autor explica, de «texto feito de restos de trechos de documentos encontrados no antigo predio da agencia brasileira de inteligencia em vitoria do espirito santo apos o ataque que prescindiu a transformacao do planeta terra em um posto avancado em 2014») é uma história de mistério sobre um atentado, com sugestões de haver qualquer coisa de sobrenatural na base de tudo e com levíssimos toques de FC. Uma mistura que pode ser interessante. Mas é infodump puro; um relato alegadamente objetivo e muitíssimo seco de uma operação mal sucedida, efetuada por uns "agentes" nunca identificados. Uma operação de contra-espionagem, contra agentes estrangeiros (dois alemães e um brasileiro) que se teriam apoderado de um nootrópico e estariam a tentar sair do país com ele, e que teria tido como resultado a morte de um autocarro de inocentes, gente ligada à Universidade Federal do Pará. Também isto pode ser interessante.

Mas o conto também tem elementos que me provocaram enfado e até, por vezes, um certo revirar de olhos. Para começar, não gostei da forma escolhida para contar a história. Percebo: assim é mais rápido, o conto fica despachado mais depressa. Mas esta maneira de apresentar apenas um relatório frio sobre factos mais ou menos incertos retira toda a carga emocional a uma história que poderia vir cheia de ação e emoção caso fosse sendo acompanhada a par e passo pelo leitor. Não sou fundamentalista da máxima "show, don't tell", acho que ambas as coisas podem resultar se bem usadas, mas também acho que este é um caso em que bastante mais show e bastante menos tell só teriam beneficiado o resultado final. E o revirar de olhos vai direitinho para os inúmeros parêntesis que ora repetem uma sigla de alguma instituição cujo nome por extenso os antecede, ora repetem por extenso um número expresso logo antes em algarismos. Entendo que se trata de uma tentativa de dar maior verosimilhança ao "relatório", mas tanta repetição inútil em termos narrativos depressa se torna maçuda em extremo.

Resumindo e concluindo: há aqui uma história que, se bem desenvolvida, até poderia tornar-se bastante interessante. Mas esta forma de a apresentar, parece-me, faz-lhe um grande desserviço. E ainda por cima tem bastantes gralhas.

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