sábado, 18 de dezembro de 2021

Marcelo Paschoalin: Sangue em Suas Mãos

Existe uma maldição que cai sobre quem tem longos anos de leituras acumuladas atrás das costas e por isso já leu muita coisa (mesmo que no presente nem ande a ler muito). Uma maldição que condena essas pessoas a verem o caminho que as histórias vão seguir bem antes do momento em que os autores pretendem mostrá-lo, o que transforma esses momentos de clímax pretendido em algo de anticlimático. Por vezes, ainda se surpreendem, e reencontram nessas surpresas o prazer que lhes é tantas vezes negado pela experiência. Mas com demasiada frequência não, e o prato literário fica um tanto ou quanto sensaborão. O que talvez até explique em parte o facto de não andarem a ler muito.

É por isso que ao deparar com um conto intitulado Sangue em Suas Mãos, eu tenha descoberto o final ao fim da primeira página. Bastou a situação, um polícia que encontra uma mulher com as mãos ensanguentadas debruçada sobre um cadáver sangrento caído no chão, e o autor ter deixado cair a pista da mulher ter um sorriso irónico, para o puzzle se encaixar firmemente na minha cabeça. Ajuda que Marcelo Paschoalin não seja propriamente subtil; as pistas que deixa caem com o estrondo de toneladas de chumbo.

Ora, isso é um problema quando o conto é daqueles que estão feitos para tirar o tapete ao leitor com um final surpresa. Comigo não aconteceu. O final de surpresa não teve nada, e como as restantes características da história são no máximo razoáveis o conto esteve longe de satisfazer-me. Vou ter de revelar o final se quero explicar isto melhor, portanto quem for alérgico a spoilers e fizer planos de ler esta história o melhor que tem a fazer é parar a leitura aqui.

Aviso feito. Siga.

Trata-se de um conto de vampiros, o que o protagonista vai aprender da pior forma, depois de o leitor (este leitor, pelo menos) já estar farto de saber o que a mulher estava a fazer debruçada sobre o cadáver. O que transforma o investigador num prodígio de burrice e/ou incompetência, o que dá uma valente cacetada na suspensão da descrença, o que faz descer bastante a avaliação final que se faz ao conto. É um conto fracote a atirar para o razoável. Ou razoável a atirar para o fraco, talvez. Certo é que não chega ao bom.

Conto anterior desta publicação:

Sem comentários:

Enviar um comentário

Por motivos de spam persistente, todos os comentários neste blogue são moderados. Comentários legítimos passam, mas pode demorar algum tempo. Como sempre acontece, paga a maioria por uma minoria de idiotas. Parece ser assim que o mundo funciona, infelizmente.