domingo, 5 de janeiro de 2025

Jack Smith: Dread

Começo por uma releitura, e é possível que sejam também releituras as próximas coisas a publicar aqui na Lâmpada. Uma releitura que, atestando o estado em que eu estava quando fiz a leitura inicial, foi quase como ler pela primeira vez; só mesmo no fim do conto se me agitou a memória com uma vaga recordação de já o ter lido.

Sim, Dread é um conto. Um conto de alguém com um nome tão genérico que quase parece pseudónimo: Jack Smith. Um conto muito americano, escrito em inglês (a revista é portuguesa, mas todos os textos finais estão em inglês), com uma atmosfera de realismo mágico cheia de foreshadowing. O protagonista, um vendedor de seguros em plena crise existencial, decide num impulso fazer gazeta ao trabalho (que odeia, embora pareça odiar mais os colegas que o trabalho) para pensar sobre a vida vazia que vive. E é basicamente sobre isso, o conto: o vazio da vida de um trabalhador de colarinho branco, enfiado até ao pescoço nas areias movediças do corporativismo americano. Vale uma tal vida a pena ser vivida? Smith parece achar que não, embora o seu protagonista não tenha grandes certezas. Ele detesta-a, sim, mas que alternativa existe?

O foreshadowing chega ao volante de condutores perigosos, armados daquelas tão americanas aberrações de quatro rodas, aqueles híbridos de SUV e camioneta, enormes, sôfregos de combustível e, aparentemente, de sangue. Numa manhã de viagem entre casa e o trabalho, escapa-se por pouco a pelo menos duas colisões fatais com uma coisa dessas. E depois, bem...

É um conto interessante, este. Não posso dizer que seja a melhor coisa desde a invenção da batata frita, que não é. Mas é interessante.

Textos anteriores desta publicação:

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

OK, vamos lá então

Durante o período que se convencionou chamar "as festas", e a que eu tenho o hábito de acrescentar "do solstício", mão amiga fez-me chegar um zip cheio de zips. Vinha o zip acompanhado de uma mensagem que, espremendo até à sua ideia base, seria algo como "vá, pá, o que te faz falta é boa velha FC para ler, portanto toma lá."

Agradeço a ideia, agradeço o gesto, mas devo dizer que não é. O que não me falta é FC para ler. E outras coisas para ler, diga-se. Entre livros em papel e em bits, tenho aqui leitura para mais que o tempo que me resta de vida, e muitos deles são FC.

Dito isto, a mensagem e a oferta tiveram o efeito pretendido. Despertaram-me da modorra. A oferta é uma enorme coleção de "Megapacks", ebooks vendidos pela Wildside Press por uma tuta e meia, com carradas de contos e romances lá dentro (daí o zip de zips, que um ficheiro epub não passa de um zip com ficheiros html — para ser mais preciso, xhtml, mas é basicamente a mesma coisa — lá dentro).

Estive aqui uns tempinhos a decidir o que fazer, que não tenho certezas sobre a legalidade da oferta, e acabei por resolver tratá-la como uma espécie de shareware literário: vou ler os livros e, se gostar, compro-os à Wildside. É 1 dólar cada, afinal; não será por isso que irei à falência.

E também vou fazer o que já tinha aventado como possibilidade: pegar nas coisas cujas opiniões deixei incompletas aqui nos arquivos da Lâmpada, relê-las, completar as opiniões e publicar. Entre uma e outra coisa, e a menos que haja imprevistos (tem havido, mas não há sempre), isto por aqui deverá voltar a mexer no futuro próximo.

Boas notícias? Más notícias? As opiniões divergirão, como sempre acontece...

Até já.