sábado, 1 de fevereiro de 2025

Mark Cox: Natural Causes

Mais uma historinha americana, mais um texto cuja recordação se começa a desvanecer quase assim que acaba. Sim, zero lembrança de o ter lido. Dito isto, achei-o agora, na releitura, mais interessante que o anterior.

Natural Causes é uma pequena reflexão sobre os pequenos acasos de que é feita a vida. A vida e a memória, o que talvez explique em parte o motivo de eu ter achado interessante este poema de Mark Cox, uma vez que tem ligação direta com o motivo por que estive a relê-lo. Não me parece que seja muito bom (mas que sei eu de poesia?), mas tem interesse, o que por vezes é melhor do que ser bom.

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quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Janet Homer: Family Trees

Contrariamente ao que aconteceu com o último, este poema de Janet Homer não me disse nada, basicamente. É outra história americana em verso, mas achei-a tão esquecível que não só não tinha a menor memória de a ter lido há dois anos, como, relendo-a agora, noto que se começa a desvanecer assim que fecho a revista. Há aqui algum humor, parece-me, uma certa procura de raízes, refletida em parte no título de Family Trees, mas o poema pareceu-me sobretudo desconexo, uma espécie de fragmento de conversa sem princípio nem fim, repleto de peculiaridades tipográficas cuja razão de ser só raramente consigo descortinar.

Por outro lado, eu pouco percebo de poesia, pelo que é perfeitamente possível, ou até provável, que esta seja uma obra de grande nível, com demasiada areia para a minha pequena camioneta.

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Reginald Bretnor: Unknown Things

Julgo que nunca tinha lido nada de Reginald Bretnor antes deste conto que, segundo é informado neste Megapack, saiu originalmente em 1989. E confesso que esta data me surpreendeu um pouco. Pelo ambiente, pela forma de escrita, pela abordagem, julguei ser coisa significativamente mais antiga, datada, talvez, dos anos 50 ou 60.

Unknown Things é, pois, uma história muito clássica. Uma daquelas histórias de ficção científica (e fantasia, género onde até talvez sejam mais comuns) centradas na estranheza de uma personagem bizarra, que o protagonista principal, por vezes o narrador, procura decifrar.

Li várias histórias dessas ao longo dos anos e esta, embora esteja contada com eficácia, em nada se destaca das outras.

O protagonista-narrador, aqui, é um vendedor de antiguidades americano que todos os anos passa uma temporada na Grã-Bretanha e na Europa continental à procura de coisas que possa levar para a América para vender. É numa dessas viagens que conhece a personagem misteriosa, um tal Hoogstraten (não me passou despercebido que o apelido dele comece da mesma forma que eu decidi batizar os meus ETs no Embaixadores, o que pode ter tingido um pouco a primeira opinião que a personagem me causou), e o conto prossegue a narrar o que acontece nos encontros entre os dois.

Hoogstraten é aquilo a que se costuma chamar um excêntrico. Podre de rico, aparentemente, paga exorbitâncias por qualquer objeto que lhe caia no goto. Mas procura um tipo muito específico de objeto: coisas de utilidade misteriosa que nem ele, nem os vendedores, consigam determinar qual possa ser.

O conto está construído por forma a preparar o final surpresa, que envolve uma terceira personagem, uma mulher que parece estar nalguma espécie de relação com o excêntrico e deixa o vendedor completamente obcecado. Também o final surpresa é eficaz mas, de novo e para não destoar do resto do conto, não particularmente entusiasmante. Um conto decente, mas apenas isso.

domingo, 26 de janeiro de 2025

Um continho em inglês

Ganho a vida com a língua inglesa já vai a caminho de duas décadas. Apesar disso, nunca me senti competente para fazer traduções de português para inglês, pelo que nunca tentei traduzir nada do que fui escrevendo para apresentar a publicações do legendário "lá fora". Os créditos de publicação em inglês que tenho chegaram por intermédio de traduções alheias, particularmente a do Luís Rodrigues para o conto que publiquei na Nemonymous, uma das primeiras publicações pagas que tive, se não mesmo a primeira (francamente, agora de repente não me lembro e não tenho tempo para ir investigar). Houve algumas coisas que escrevi diretamente em inglês, mas sempre achei isso mais fácil do que fazer a tradução do português, o que pode parecer não fazer grande sentido mas para mim faz.

Fast-forward (pá, está-se a falar de cenas em inglês, deixem-me lá) para finais do ano passado, quando descobri a SciFanSat, uma publicação que publica material desde os mais minúsculos minicontos até histórias de bom tamanho (e poemas, também) em edições temáticas mensais.

E eu pensei qualquer coisa do género: "olha, estes tipos publicam coisinhas minúsculas... e se eu experimentasse traduzir alguma das minhas?" Sim, porque se eu fosse experimentar fazer a tradução das minhas coisas para inglês começaria sempre por qualquer coisa pequena. Para testar as águas, para ver como me saía. Para verificar se os anos de trabalho com a língua me deixaram mais capaz de o fazer do que da última vez que tentei, sem que com isso gastasse demasiado tempo. Ou perdesse demasiado tampo, para o caso da empreitada não ter o sucesso desejável.

Vai daí, quando apareceu o tema do tempo eu lembrei-me de um continho minúsculo e inédito que aqui tinha. Traduzi-o (foi rápido e indolor), apresentei-o. Fiquei à espera.

E foi publicado ontem.

Uma História de Falta de Tempo, no título original; A Story of Lack of Time, assim ficou a chamar-se em inglês.

O site da revista, para quem quiser verificar, está aqui. E este é o link direto para o número 18.

Michael Garcia Spring: Path to the Lighthouse

Antes das pausas, dizia com frequência, sempre que me deparava com poemas naquilo que ia lendo, que não percebia grande coisa de poesia. Pois bem: continuo sem perceber.

Apesar disso, achei este poema de Michael Garcia Spring bastante interessante, em grande medida pela capacidade que tem de evocar uma paisagem muito característica de uma geografia onde eu nunca estive mas que até conheço de a ter visto numa variedade de écrans.

Path to the Lighthouse é uma exploração fantasiosa e surreal, até um tanto ou quanto onírica, da costa ocidental da América do Norte, algures entre o norte da Califórnia e a Colúmbia Britânica. Sim, sobre essa paisagem paira a figura fantasmagórica de uma mulher. Mas o importante é mesmo, parece-me, a paisagem propriamente dita.

Mas lá está: posso perfeitamente estar completamente errado. Afinal, eu pouco percebo de poesia.

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segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Andrew L. Wilson: Ariel Sharon's Dream

OK, deste lembrava-me.

Não me lembrava dos pormenores, dos detalhes de enredo, mas sim, lembrava-me de o ter lido e do clima geral desta breve história de Andrew L. Wilson. E também me lembrava de ter gostado, o que foi coisa rara no período que antecedeu o meu piripacozinho. Refiro-me a lembrar-me do que lia e também a gostar do que lia.

Ariel Sharon foi um criminoso de guerra israelita que finalmente deixou o mundo um pouco melhor ao morrer em 2014. Na altura em que este conto presumivelmente terá sido escrito (a revista data de 2004; imagino que a criação literária tenha acontecido nesse ano ou no anterior), Sharon era primeiro-ministro de Israel, e o conto é claramente motivado pela fúria por um monstro daqueles estar naquela posição. Mas apesar disso, não é um conto furioso. É uma história de denúncia branda, servindo-se das técnicas do realismo mágico, da fantasia e de alguma metaliteratura para mostrar Sharon tal como era.

Ariel Sharon's Dream só é sonho na medida em que talvez fosse o sonho de Wilson: ver Sharon morto. Não só vê-lo morto, mas reencarnado na pessoa de uma das suas vítimas, um palestiniano, órfão ao nascer em consequência direta da ocupação israelita da Palestina, da opressão israelita na Palestina, que acaba assassinado, aos dez anos de idade, por uma bala disparada por soldados israelitas na Palestina. Um algoz a viver a breve vida de uma das suas vítimas.

Sim, gostei mesmo deste conto. Quando o li, e agora, ao relê-lo.

E agora ao relê-lo não consegui evitar interrogar-me sobre o que sentirá Andrew Wilson, se ainda andar por aí, ao ver que hoje, vinte anos depois, alguém ainda pior que Sharon dirige um genocídio ainda mais mortífero na mesma terra amaldiçoada por decisões tomadas há muitas décadas em salas aquecidas a milhares de quilómetros de distância.

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domingo, 5 de janeiro de 2025

Jack Smith: Dread

Começo por uma releitura, e é possível que sejam também releituras as próximas coisas a publicar aqui na Lâmpada. Uma releitura que, atestando o estado em que eu estava quando fiz a leitura inicial, foi quase como ler pela primeira vez; só mesmo no fim do conto se me agitou a memória com uma vaga recordação de já o ter lido.

Sim, Dread é um conto. Um conto de alguém com um nome tão genérico que quase parece pseudónimo: Jack Smith. Um conto muito americano, escrito em inglês (a revista é portuguesa, mas todos os textos finais estão em inglês), com uma atmosfera de realismo mágico cheia de foreshadowing. O protagonista, um vendedor de seguros em plena crise existencial, decide num impulso fazer gazeta ao trabalho (que odeia, embora pareça odiar mais os colegas que o trabalho) para pensar sobre a vida vazia que vive. E é basicamente sobre isso, o conto: o vazio da vida de um trabalhador de colarinho branco, enfiado até ao pescoço nas areias movediças do corporativismo americano. Vale uma tal vida a pena ser vivida? Smith parece achar que não, embora o seu protagonista não tenha grandes certezas. Ele detesta-a, sim, mas que alternativa existe?

O foreshadowing chega ao volante de condutores perigosos, armados daquelas tão americanas aberrações de quatro rodas, aqueles híbridos de SUV e camioneta, enormes, sôfregos de combustível e, aparentemente, de sangue. Numa manhã de viagem entre casa e o trabalho, escapa-se por pouco a pelo menos duas colisões fatais com uma coisa dessas. E depois, bem...

É um conto interessante, este. Não posso dizer que seja a melhor coisa desde a invenção da batata frita, que não é. Mas é interessante.

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sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

OK, vamos lá então

Durante o período que se convencionou chamar "as festas", e a que eu tenho o hábito de acrescentar "do solstício", mão amiga fez-me chegar um zip cheio de zips. Vinha o zip acompanhado de uma mensagem que, espremendo até à sua ideia base, seria algo como "vá, pá, o que te faz falta é boa velha FC para ler, portanto toma lá."

Agradeço a ideia, agradeço o gesto, mas devo dizer que não é. O que não me falta é FC para ler. E outras coisas para ler, diga-se. Entre livros em papel e em bits, tenho aqui leitura para mais que o tempo que me resta de vida, e muitos deles são FC.

Dito isto, a mensagem e a oferta tiveram o efeito pretendido. Despertaram-me da modorra. A oferta é uma enorme coleção de "Megapacks", ebooks vendidos pela Wildside Press por uma tuta e meia, com carradas de contos e romances lá dentro (daí o zip de zips, que um ficheiro epub não passa de um zip com ficheiros html — para ser mais preciso, xhtml, mas é basicamente a mesma coisa — lá dentro).

Estive aqui uns tempinhos a decidir o que fazer, que não tenho certezas sobre a legalidade da oferta, e acabei por resolver tratá-la como uma espécie de shareware literário: vou ler os livros e, se gostar, compro-os à Wildside. É 1 dólar cada, afinal; não será por isso que irei à falência.

E também vou fazer o que já tinha aventado como possibilidade: pegar nas coisas cujas opiniões deixei incompletas aqui nos arquivos da Lâmpada, relê-las, completar as opiniões e publicar. Entre uma e outra coisa, e a menos que haja imprevistos (tem havido, mas não há sempre), isto por aqui deverá voltar a mexer no futuro próximo.

Boas notícias? Más notícias? As opiniões divergirão, como sempre acontece...

Até já.