sábado, 22 de abril de 2017

Lido: Colombo

É curioso, e decerto que não foi propositado, mas este conto tem vários pontos de contacto com o anterior. Tal como em Coração Atómico, em Colombo, de Carla Ribeiro, vamos encontrar um homem genial que cria uma inovação tecnológica revolucionária que não tarda a haver quem queira usar para a guerra e a violência. Também aqui esse homem é torturado e está à beira de acabar destruído pelas consequências indesejadas da sua criação, numa forma de encarar a tecnologia que tem o seu quê de ludita. E também este conto está bem escrito.

O protagonista é um jovem engenheiro genial, criador de umas superengenhocas muito steampunk que, depois de se ver humilhantemente rejeitado pelo seu país natal, se vai pôr ao serviço de uma potência rival, à semelhança do velho Fernão de Magalhães, a fim de que as inovações que imagina acabem por ver mesmo a luz do dia. Encontramo-lo bastante depois desse momento, como passageiro, algo involuntário, de uma das máquinas voadoras que concebeu e foram usadas por essa potência para derrotar e destruir a sua terra numa guerra devastadora. Encontramo-lo no momento em que é forçado a confrontar a realidade do que fez, em todas as suas facetas e consequências, no momento em que realmente se compreende traidor. Traidor não só à sua terra e povo, mas à própria família.

Este é um conto forte, centrado no conflito interior do protagonista, mas sem grandes exageros. Em textos de Carla Ribeiro que li anteriormente havia uma certa tendência para hiperromantizar as situações, os diálogos e as personagens, mas vejo com agrado que essa tendência, embora não totalmente desaparecida, está agora muito mais controlada. E como consequência, este é certamente o melhor dos seus contos que já li.

Textos anteriores deste livro:

Sem comentários:

Enviar um comentário

Por motivos de spam persistente, todos os comentários neste blogue são moderados. Comentários legítimos passam, mas pode demorar algum tempo. Como sempre acontece, paga a maioria por uma minoria de abusadores. Parece ser assim que o mundo funciona, infelizmente.