sábado, 15 de setembro de 2012

Lido: O Homem das Batalhas

O Homem das Batalhas (bib.) é uma noveleta de Dórdio Guimarães sobre um homem que se vê periodicamente arrebatado para fantasmagóricas batalhas do passado, sempre que chega àqueles pontos do território português onde elas tiveram lugar. Narrada por um seu amigo e colega, que o acompanha em viagens pelo país a publicitar medicamentos, a história vai desvendando a estranha vida secreta de Lúcio, assim se chama o protagonista (e não por acaso), que julga ser obrigado a reviver as antigas batalhas em desarvoradas pantomimas a fim de que quem nelas morreu não sobreviva. Ou talvez o seja mesmo.

A ideia é ótima. Mistura viagem no tempo com o fantástico mais tradicional, chega mesmo a roçar muito ao de leve a ficção científica, e a história está, no geral, bem desenvolvida. O problema é... bem, a poesia.

Dórdio Guimarães, cujo principal acesso à fama consiste em ter sido casado com Natália Correia, teve, no entanto, atividade cultural de relevo... mas no campo literário foi sobretudo poeta. E isso, infelizmente, nota-se aqui demasiado.

Note-se que nada tenho nem contra a poesia, nem contra a prosa poética. Até gosto. Mas gosto quando ela tem uma função, quando contribui para criar uma obra melhor do que se fosse escrita de outra forma. Pelo contrário, irrita-me sobremaneira quando os rodriguinhos do texto se intrometem na história, reduzindo-lhe a eficácia. Irrita-me quando um discurso direto desastrado faz com que as personagens deixem de parecer pessoas para passarem a soar como pavões balofos e presunçosos porque o autor acha que tem de burilar todas as frases. E depois aparecem personagens a dizer coisas como "e agora atenta bem no que vais presenciar, pois ninguém jamais repetirá as imagens a que vais assistir." Ou "digo-te, aproveita enquanto o teu império é tempo, meu caro." Ou até frases sem sentido algum (mas muito belas, mas muito belas), como "a tua supremacia, conquanto, suponhamos, a longo prazo pode ser temporal."

O Homem das Batalhas poderia, portanto, ser um belo conto fantástico. Mas a meu ver foi arruinado por um autor que não lhe soube dar o devido tom. É pena. Mas achei-o fraco.

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