terça-feira, 25 de setembro de 2012

Lido: A Síndroma de Abraão

A Síndroma de Abraão (bib.) é um conto de João Barreiros que mistura elementos de história alternativa com a ficção científica mais habitual no autor. Tudo parte de uma primeira alunagem completamente diferente da que foi realizada no nosso mundo por Neil Armstrong. No mundo de Barreiros, Armstrong, ao chegar à Lua, desperta uma biosfera alienígena latente, a qual, como sempre acontece nos mundos de Barreiros, se vem a revelar agressivamente predatória. Isto muito embora neste caso essa agressividade venha disfarçada de benevolência, pois os organismos que os astronautas americanos encontram na Lua funcionam como uma espécie de mnemovírus parasitários, oferecendo aos hospedeiros acesso instantânio à Enciclopédia Universal. E é o que acontece à espécie humana quando a infeção se espalha pelo planeta que constitui o tema superficial desta história.

Trata-se de um conto que pode começar por parecer algo indigesto, dado o gigantesco infodump que ocupa as primeiras páginas, mas que acaba por revelar-se interessante lá mais para o meio, a partir do momento em que aparece um protagonista para a história, alguém com uma personalidade e opiniões próprias. Esse infodump inicial é, contudo, suficiente para arredá-lo imediatamente do conjunto dos melhores contos de João Barreiros. Além disso, trata-se de um conto marcadamente ideológico, sendo mesmo defensável, até certo ponto, vê-lo como propaganda da velha ideia de que não há jantares grátis. E embora nisso não destoe da maior parte da obra de Barreiros, bem pelo contrário, essa característica torna-se aqui mais evidente pela ausência do habitual enredo de ação, que em outras histórias tende a disfarçá-la um pouco.

De resto, retomam-se aqui outras ideias já muito exploradas por Barreiros, como a da invasão de alienígenas oriundos do centro da Galáxia, central, por exemplo, no romance Terrarium e na novela Disney no Céu Entre os Dumbos. Isso implica consistência? Sim. Mas é repetitivo? Também. E é mais um motivo para que quem já leu a obra quase completa de João Barreiros provavelmente não vá achar este conto grande coisa. O autor já tinha feito muito melhor com muitos destes temas.

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