Ontem fui a Faro. Pela 125, como é óbvio, pois não estou disposto a pagar para andar numa estrada cujo custo foi quase integralmente coberto por fundos europeus e cujas portagens vão alimentar os cofres duma empresa que não tem qualquer direito a tais fundos: a Via do Infante. Também conhecida por A-22.
Mas, como ia dizendo, ontem fui a Faro. Eis o que vi no caminho:
Prostitutas de beira de estrada. Três. Uma sozinha, a deambular de um lado para o outro, e duas juntas, com grandes botas até ao joelho, uma sentada em qualquer coisa, a outra de pé, a ocupar a berma. Dizem-me que são visão habitual em alguns troços, mas nunca as tinha visto.
Uma limusina. Sim. Uma limusina.
Banquinhas de venda de laranjas. Não tantas como às vezes se encontram — não estamos na época da maior parte das variedades que se cultivam no Algarve — mas ainda bastantes. E sim, claro, a ocupar a berma.
Muita nabice ao volante. Muita. Dir-se-ia que os condutores de domingo se fizeram todos à estrada no sábado. Provavelmente bêbados. Vi uma carrinha a ultrapassar o traço contínuo em curva, vi uma rapariga com ar de donzela alheada de tudo que se recusava a encostar à direita nas zonas de faixa dupla destinadas a ultrapassagens, vi carripanas a arrastar-se estrada fora a 50 ou 60 à hora, vi... eu sei lá. Muita nabice ao volante. Muita.
Um homem que mal se aguentava em cima da bicicleta. A cada pedalada dava um cambaleio, sempre na iminência de se estatelar. Estava na berma, mas facilmente se teria esparramado na estrada. Bêbado? Quase de certeza.
Carros parados a meio da estrada. À espera de uma aberta no muito trânsito contrário para se meterem numa das inúmeras entradas, estradinhas e caminhos que cruzam com a estrada principal.
Casas, casas e mais casas. A 125 não é uma estrada, é uma rua.
Carros, carros e mais carros. E felizmente era sábado; não havia camiões. A 125 não é uma estrada, é a rua principal de uma grande metrópole disfuncional, desordenada e sem um sistema de transportes públicos capaz de captar parte do trânsito individual entre as várias partes dessa metrópole.
Horas depois de chegar a casa soube que um homem morreu num dos lugares por onde passei. Não o vi, deve ter acontecido depois da minha passagem. Mas não me custa nada a crer.
Quem pôs portagens na Via do Infante tem nas mãos o sangue desse homem. E só não o tem na consciência porque esta gente não tem consciência.
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