quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Lido: Grande G

Grande G (bib.), noveleta dieseleroticosteampunk (é um nó cujo desenlace vos deixo como passatempo) de Tibor Moricz, é, sobretudo, uma sátira. Só não percebi bem a quê. À superfície, a história relata uma luta pelo poder entre as várias gerações de uma família de monstros em forma humana, sedentos de sexo e poder, num universo ficcional simplificado e esquemático composto por duas cidades, Steam City e Smoke City. A família dirige esta última com férrea mão corporativa, num capitalismo monopolista levado ao derradeiro extremo. A outra cidade é rival eternamente derrotado devido à posse por Smoke City de tecnologia mais avançada e a cirúrgicas ações de sabotagem que mantém a outra cidade prisioneira na era do carvão.

Faz lembrar, vagamente, o mundo real na época da Guerra Fria, mas tudo é exagerado e esquematizado até se tornar grotesco. E nada há de mais grotesco do que a própria família Grummann, três gerações mergulhadas na mais repugnante depravação. Há de tudo: pedofilia, libertinagem, incesto, incesto pedófilo, sem esquecer o assassínio, num fiel paralelismo entre as relações sexuais e as de poder, e na total impunidade que advém desse poder ser absoluto.

E é por isso que não sei bem o que é aqui satirizado, se o simplismo ideológico de alguma esquerda que representa os grandes tubarões financeiros e industriais como um mal sem matizes, se a própria natureza desse mal. Seja como for, é uma história interessante. Não posso dizer que tenha gostado assim muito dela, mas é interessante. E arriscada: arrisca-se a chocar alguns leitores de tal maneira que os leve a achar tudo aquilo gratuito e por isso a rejeitá-la. Mas, embora o choque exista e seja propositado, não creio que tenha alguma coisa de gratuito. Pelo contrário: é conteúdo.

Conto anterior deste livro:

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