Contos Fantásticos (bibliografia) é uma pequena antologia que esconde por trás desta designação razoavelmente genérica (embora adequada) uma antologia de contos clássicos de horror. Uma boa antologia de contos clássicos de horror, diga-se, pois não só é sólida no que toca à qualidade das obras que a compõem, em geral elevada, como também o é em termos temáticos.
Paradoxalmente, foi aí mesmo que ela falhou comigo. O problema não será tanto desta antologia em concreto, há que dizê-lo. O problema é o cânone.
Há quem adore o cânone, enchendo a boca com obras incontornáveis, leituras obrigatórias, o diabo a quatro. Mas eu, confesso, não pertenço a esse grupo, e quanto mais leio mais me afasto dele. Por vários motivos, alguns dos quais esta antologia serve lindamente para ilustrar.
O principal problema de que o cânone enferma é tornar-se limitativo. Limitativo na edição, por exemplo, fazendo com que se reeditem sucessivamente as mesmas obras uma e outra vez e outra ainda. Para quem lê pouco, isso é ótimo: permite-lhe tomar facilmente contacto com o que de melhor, segundo gerações sucessivas de leitores e literatos, se foi produzindo num determinado campo. Para quem lê um pouco mais, no entanto, já não é, porque vai chegar inevitavelmente a um ponto em que encontra as mesmas obras em edições diferentes. Como aqui.
Onde esta antologia falhou comigo foi na completa ausência de novidade. Nem uma única, para amostra. Já tinha lido todos estes contos em outras edições. É certo que eles não são muitos, mas a verdade é que se a seleção não se tivesse restringido ao cânone o resultado provavelmente teria sido bem mais interessante, não me limitando a releituras ao mesmo tempo que mantinha a qualidade razoavelmente inalterada.
Pois esse é o segundo aspeto em que o cânone é limitativo. É que não há, geralmente, diferença de monta em termos de qualidade entre as obras que pertencem ao cânone e as melhores obras que não pertencem. Poder-se-ia construir com estas um cânone alternativo tão abundante e praticamente tão bom como o verdadeiro. E no entanto, a ideia de que o cânone é o ápice da produção cultural, é o necessário e (pior) o suficiente para arrancar uma pessoa às trevas da bronquice e transformá-la num intelectual, está de tal modo disseminada que provoca um forte esquecimento relativo de muitos trabalhos, e até alguns autores, cheios de qualidades.
O cânone é, pois, e de uma forma muito concreta, um cliché. E todos sabem como é vantajoso tentar escapar aos clichés, não é verdade? Ou pelo menos disfarçá-los, usá-los de forma criativa.
Voltando a esta antologia, não foi isso que aqui aconteceu. Com outras obras de outros autores, ou até dos mesmos, estes Contos Fantásticos teriam provavelmente recebido da minha parte uma opinião mais favorável. Mas quem os selecionou ficou-se pelo cânone, pelo cliché, e o resultado sofreu com isso.
Eis o que achei de cada uma das três histórias, ou pelo menos eis links para o que já antes tinha achado delas:
Este livro foi comprado.
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