terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Lido: Histórias Fantasmagóricas

Histórias Fantasmagóricas (bibliografia) é uma coletânea de horror de Hugo Rocha assumidamente derivativa. Ou seja, é o próprio Hugo Rocha que afirma que um dos seus principais objetivos ao escrever estas histórias, tanto por moto próprio como por pedido editorial, foi como que importar para a literatura portuguesa o conto de fantasmas gótico que tanto sucesso fez décadas mais cedo — e, na verdade, continua ainda hoje a fazer em certos círculos — em outras latitudes, e muito em particular em países anglófonos.

E, de facto, essa qualidade derivativa, de emulação de exemplos alheios, é muito evidente na maioria das quinze histórias que compõem o livro, pese embora a tentativa, também ela deliberada (e afirmada) de como que aclimatar a planta transplantada, enraizando-a no novo clima. Quase todas as histórias se passam em Portugal, e as exceções ou se ambientam em geografias próximas, geográfica ou culturalmente, ou têm personagens portuguesas.

Não me parece que se trate de um livro realmente bom. Em parte por causa dessa natureza derivativa, mas também porque Hugo Rocha recorre a um estilo algo estranho. A sua prosa é labiríntica, enovelada, repleta de vírgulas, com frases tão retorcidas que por vezes mal se percebe onde começam e onde acabam. Para que uma prosa assim resulte em algo agradável de ler é necessário que seja produzida por um grande escritor, coisa que Hugo Rocha não é. É um escritor com um vocabulário rico. É um escritor que sabe desenvolver e estruturar histórias, mesmo que nesse desenvolvimento e estruturação emule exemplos estrangeiros. Mas está longe de ser um grande escritor.

Por outro lado tampouco me parece que este livro seja mau. Sim, é derivativo, mas a derivação é em geral bem feita. As histórias fantasmagóricas são credíveis enquanto histórias ambientadas nas nossas geografia e cultura, e por vezes são até mais do que isso. Por vezes Rocha mergulha mais fundo, aborda temas polémicos ou sensíveis, revelando, não sei bem se deliberadamente se por acidente, as preocupações que tem quanto à sociedade repressiva que o rodeia (o livro é de 1969, em plena ditadura e com guerras coloniais em curso, por mais que se falasse na época de primavera), e as contradições de si mesmo enquanto homem do seu tempo. E foi precisamente isso que mais me interessou durante a leitura deste livro, e foi em boa medida por isso que acabei por gostar dele. Por isso e porque entre as histórias que são na sua maioria medianas também se encontram algumas realmente boas.

Eis o que achei delas:
Este livro foi comprado.

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