O Nevoeiro que Desvendou Realidades (bibliografia), de Sofia Vilarigues, é um conto de realismo mágico bastante interessante e bastante bem escrito, com um ponto fraco: os apartes entre parêntesis. Estes foram muito criticados, e houve até quem os achasse suficientemente irritantes para estragar o conto. Pessoalmente, não sou dessa opinião, embora concorde que quebram o ritmo narrativo, porque acho que pelo menos alguns são úteis para melhor estabelecer o ambiente e mesmo, até certo ponto, fazer avançar o enredo. Serão demasiados? Provavelmente sim. E sim, é provável que o conto ficasse melhor se fossem menos ou a informação que contêm fosse dissolvida no texto propriamente dito, mas este continua a parecer-me suficientemente forte para resistir bem.
A história desenrola-se numa ilha, onde vivem as duas últimas falantes de uma língua antiga, que aparentemente se liga, e as liga, a uma magia insular muito própria. É quando o neto de uma destas velhotas chega à ilha que um estranho nevoeiro sobre ela cai e desencadeia uma série de acontecimentos que o vão levar a tomar contacto com as características próprias daquele lugar. A história é interessante, com longínquas ressonâncias de Garcia Márquez ou de certas obras de Ursula K LeGuin (uma, em particular, veio-me à mente: Tembreabrezi), um fundo ecológico muito forte, e uma exploração interessante da velha ideia da ilha enquanto pequeno mundo isolado do mundo maior que fora dela se estende. E é dos contos mais bem escritos de todo o livro, embora talvez não dos melhores por causa do excesso de apartes.
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