O meu 2013 foi um ano de muita fúria, de muito asco pelas figurinhas repugnates que parasitam os mais altos lugares do Estado, insultando com a sua mera existência a própria essência desses lugares, desses cargos, e do próprio Estado.
O meu 2013 foi o ano de uma esperança ténue, entrevista em dias como o de 2 de março, mas depressa remetida à campa rasa das coisas que assim que nascem logo morrem, assassinada por um povo de fogachos, incapaz de compreender que só com persistência e determinação se consegue alguma coisa, ou demasiado medroso para se mostrar persistente e determinado seja no que for.
O meu 2013 foi o ano em que desfiz a golpes de rigor e de um tudo-nada de estatística as invencionices caturras de quem, perante a absoluta falência intelectual daquilo que defende, decidiu que só levaria a sua avante através da vigarice. Saiu-se mal. Mas há um bando de criacionistas da língua que volta sucessivamente à carga com as mesmas asneiras, com as mesmas aldrabices, com as mesmas mentiras, completamente impenetráveis à verdade, aos factos, à lógica e à razão. A língua inglesa tem um nome excelente para quem assim se comporta, e que a portuguesa ainda não conseguiu expressar com igual contundência: crackpot. Há-os de todos os matizes, os criacionistas são apenas um deles. Há quem negue a gravidade, há quem sustente que a Terra é oca, há ainda quem jure (juro!) que não, que é plana, há malucos de todos os géneros e feitios. E nós, além dos outros, temos agora os que garantem a pés juntos que a nova ortografia obriga a escrever "fato" e "cagado". Gente doida.
O meu 2013 foi o ano em que me aconteceu o bizarríssimo caso de ter o meu nome citado nos salões da Assembleia da República, coisa que nunca em dias da minha vida esperava ver acontecer-me.
O meu 2013 foi o ano em que pela primeira vez na vida fui candidato a algum cargo político. Fui-o para fazer número e dar apoio, sem qualquer perspetiva ou vontade de ser eleito. Não fui eleito. Felizmente.
O meu 2013 foi o ano em que trabalhei bastante menos do que em anos anteriores, e em coisas, em geral, bem menos agradáveis. É a tal crise, que andam aí uns malucos a dizer que não existe. Mas acabou da melhor forma possível.
O meu 2013 foi o ano em que publiquei em papel o meu primeiro (e por ora único) romance.
O meu 2013 foi o ano em que escrevi umas 150 mil palavras de texto original. 400 e tal páginas de livro, se tivessem sido publicadas em livro, ainda que dessas só uma pequena parte tenha sido de ficção. Foi o ano em que concluí um conto já velho e muito bizarro, que até hoje estou sem saber se presta ou não presta, e que é capaz de ser a coisa mais esquisita que já me saiu das mãos. Está inédito e inédito ficará por algum tempo. Foi também o ano em que tentei fazer resultar uma ideia que não resultou, pese embora a boa vontade de um punhado de colaboradores, e aquele em que provavelmente dela desisti.
O meu 2013 foi o ano em que fiz crescer em quase quatro mil páginas o Bibliowiki.
O meu 2013 foi o ano em que fiquei um ano mais velho, coisa que me acontece todos os anos, sem exceção. Foi o ano em que ganhei mais alguns cabelos brancos e umas quantas rugas, mas também o ano em que alguém, decerto com uma grande falta de vista, me deu 27 anos de idade. Agora em 2014, suponho, farei 28. Não está mal.
O meu 2013 foi um ano em que li. Há coisas que não mudam, felizmente.
O meu 2013 foi um ano estranho. Mais estranho do que o normal, com uns altos e baixos invulgares, mesmo para um ano como este.
A ver vamos o que 2014 me trará.
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