sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Lido: O Sangue de Âmbar

O Sangue de Âmbar (bibliografia) é um romance de fantasia de Roger Zelazny, parte da sua série de Âmbar, que...

Esperem. Vou começar de outra forma.

Por vezes acontecem destas, suponho, a todos os leitores. Alguém, animado das melhores intenções, sabendo que gostamos de ler, e tendo uma ideia mais ou menos vaga sobre o tipo de livro que gostamos de ler, decide comprar um que, acha, será ao nosso gosto e fazer dele oferta. Por vezes acerta. De outras, mete os pés pelas mãos.

Pois comigo aconteceu com este livro. Alguém, sabendo que eu gosto de ficção científica, e sabendo que a Argonauta é uma coleção de ficção científica, achou que este livro seria mesmo a coisa ideal, e pimba, toma lá! Pois calhou que o livro é de fantasia, não de ficção científica. E, pior, calhou que é, conforme a forma de os contar, ou o sétimo da série de Âmbar, ou o segundo da segunda subsérie em que esta se divide. E não, ao contrário dos romances de Bas-Lag de China Miéville, os de Zelazny não podem ser lidos em qualquer ordem.

Eu podia, é certo, ter arranjado o primeiro e começado por aí. Mas, como tinha nas mãos este livro, achei que, já agora, podia perfeitamente lê-lo primeiro para ver se valeria a pena comprar o resto da série.

Foi má ideia.

O universo criado por Zelazny parece ser de uma fantasia algo mestiça, que brinca com os conceitos dos mundos paralelos entre os quais se encontra o nosso, muito caro da FC, mas alguns dos quais — os principais nesta história — são movidos a magia. Parece também ser veículo para Zelazny fazer uma série de homenagens a outras obras da literatura fantástica, integrando os mundos ficcionais destas no seu multiverso, e/ou deixando referências a elas espalhadas por aqui e por ali. Parece.

E parece porque este livro é uma salganhada tal que não se percebe realmente o que se está a passar. O protagonista é perseguido não se sabe bem por quem e não se sabe bem porquê, escapa-se de sucessivas tentativas de assassínio nem ele sabe bem como (mas com muito deus ex machina à mistura, aparentemente), e depois a coisa acaba não se percebe bem porquê, tudo isto com menos profundidade do que em muitas histórias de banda desenhada. Falta, obviamente, informação indispensável que deverá constar de volumes anteriores da série, mas temo que seja mais do que isso. Afinal, quem pegar em algum livro intermédio de séries boas de fantasia pode não perceber uma série de pormenores de enredo e motivações de personagens, mas ao menos encontra nestas alguma solidez e naquele arcos de história com a sua lógica própria e que servem para dar forma a cada parte da série, mesmo na falta de informação importante. Nota-se que há neles profundidade, mesmo que não consigamos abarcá-la por completo.

Aqui, longe disso. Ler este livro isoladamente é quase como tentar entender um texto escrito por algum dos proverbiais macacos sentados à frente de uma máquina de escrever.

É então um mau livro? Devido à falta de informação sobre o resto da série, reluto em dizê-lo assim taxativamente. Mas acho que posso afirmar com segurança que não se trata de um bom livro. E parece-me que a própria série pouco interesse terá. Eu, com toda a certeza, não fiquei com grande curiosidade pelos restantes, embora provavelmente acabe mais cedo ou mais tarde por comprar o primeiro para ver se a impressão que este me deixou se confirma ou não.

Este livro foi oferecido por gente amiga e bem intencionada. É pena não ter gostado da oferta, mas agradeço-a na mesma.

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