Sarah Pinsker também só está presente nesta antologia com uma noveleta. Tem por título
In Joy, Knowing the Abyss Behind. Trata-se de uma história sobre o amor de um casal, contada em dois tempos, ora nos já longínquos anos em que ambos eram novos e o mundo estava cheio de possibilidades, ora num presente de velhice, depois do homem, arquiteto, ter sido vítima de um AVC. Lentamente, vai-nos sendo desvendada a dinâmica do casal, primordialmente através das alterações que ela sofre depois do ataque, e a vida vivida em conjunto. Que tem isso a ver com literatura fantástica?, perguntarão os dois ou três atentos que estão aí desse lado. Ah! A pergunta certa! É que o homem ganhou a vida durante algum tempo fazendo para o exército americano projetos arquitectónicos como que saídos diretamente das revistas de FC. Coisas hipotéticas, pensava ele, exercícios de especulação. Mas então descobre que eram reais, que havia ETs encerrados algures nos desertos do oeste americano, e aqui chegados nós descobrimos que estamos a ler uma história de ficção científica com ETs encerrados em edifícios que ele tinha projetado, e é ao descobri-lo que a sua vida muda. E ele próprio também. É essa mudança que constitui o cerne de toda a história, a qual, já agora, é boa, escrita com sensibilidade e uma mão narrativa firme. E também, talvez, com um certo sentido de rebeldia, oculto sob uma pesada capa de conformismo social que faz com que não haja nada na protagonista e no marido que desafie nem que seja um bocadinho os papéis tradicionais de género. Mas sim, a história é boa.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Por motivos de spam persistente, todos os comentários neste blogue são moderados. Comentários legítimos passam, mas pode demorar algum tempo. Como sempre acontece, paga a maioria por uma minoria de abusadores. Parece ser assim que o mundo funciona, infelizmente.