sexta-feira, 10 de junho de 2016

Lido: Os da Minha Rua

Os da Minha Rua é daqueles livros que não são muito simples de classificar. Será romance? Será coletânea de contos? É algo híbrido, a meio caminho, um romance em mosaicos, talvez, ou uma coleção de contos interligados.

Também difícil é determinar se se trata de ficção ou relatos de acontecimentos reais, ainda que trabalhados literariamente. Parece também aqui ser um livro híbrido, entre a memória e a invenção, mas talvez com mais daquela do que desta. Memórias de infância e juventude de um tal Ndalu, burguês luandense nascido já após a independência de Angola, que cresceu durante os anos em que o seu país estava politicamente alinhado com a esfera socialista, durante uma guerra civil que o protagonista desta(s) história(s) aparentemente não chega a sentir, e quem não saiba que Ondjaki é pseudónimo de um homem chamado Ndalu de Almeida talvez se sinta tentado a atribuir tudo à ficção; afinal, por mais que a pessoa usada seja a primeira, há aqui construção de personagem, não é verdade?

Não é verdade?

Não sei, a verdade é essa. Não sei quanto disto é verdadeiro e quanto é ficcionado. Não o sabia ao iniciar a leitura e após terminá-la continuei a não saber.

O que sei é que estas histórias me desapontaram. Depois de ter lido há uns aninhos Quantas Madrugadas Tem a Noite, e ficado muitíssimo bem impressionado com o humor, a escrita, a mistura de realismo e fantasia que o romance tem, esperava encontrar aqui algo nos mesmos moldes e não foi isso que encontrei. O português em Os da Minha Rua, sendo embora de qualidade, não tem o mesmo rasgo que se encontra no outro livro; humor está presente em quantidades bem mais discretas na maioria dos contos (há algumas exceções); fantasia não existe. O que aqui se encontra é um retrato da infância, que é em parte universal, porque miúdos são miúdos, e em parte muito característica de um tempo e lugar, a Luanda dos anos 80, estendendo-se um pouco pelos 90. Um retrato bem feito? Sim, provavelmente. Mas falta-lhe qualquer coisa. Ou então sou eu que não reajo bem à escrita umbiguista. Se calhar é isso.

E como também se podem encarar estas histórias como contos independentes, aqui fica o que achei de cada uma:
Este livro foi comprado.

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