O Restaurante no Fim do Universo é a segunda parte das cinco que compõem a mais famosa trilogia de cinco livros do Universo e arredores, provavelmente por ser a única dado que todas as outras têm três. Isto, claro, se contarmos as publicações originais, porque se contarmos apenas as portuguesas esta trilogia resume-se a dois livros, este e o primeiro. É das tais coisas. A malta que não compra não compra, a editora chateia-se e deixa de editar e a pouca malta que compra e queria continuar a comprar fica a chuchar no dedo e com uma grande carranca.
Mas adiante.
Não vou repetir o que disse sobre a série quando falei do À Boleia Pela Galáxia, limito-me a aconselhar o leitor interessado (sim, pá, és só tu) a ir lá ler, que tem interesse e relevância para este livro. Tanto as informações sobre a série, sua estrutura e origens, como as que revelam coisas sobre o autor. Também aconselho o mesmo leitor interessado a ir lá ler porque muito do que digo sobre o primeiro livro também se aplica a este. De resto, é natural: este livro começa onde o outro acaba, tem origem no mesmo material radiofónico episódico usado para esculpir o outro, as personagens principais são as mesmas, por aí fora.
Sim, Arthur Dent continua aqui a viajar desastradamente de uns sítios para outros, muitas vezes sem saber como nem porquê, e o Restaurante no Fim do Universo é só uma das suas paragens. Outras são a redação do Guia da Galáxia Para quem Anda à Boleia, o próprio, uma nave prestes a mergulhar numa estrela, uma outra nave carregada de refugiados golganfrinchanos, expulsos do seu planeta porque já ninguém os conseguia aturar por lá, e a Terra pré-histórica, enquanto ainda era uma espécie de jardim do Éden, portanto sem a maçadora presença de gente. Sim, que no universo de Adams coisas sofisticadas como motores de improbabilidade ou teleportadores tanto dão para viajar até às vésperas da morte térmica do Universo como às galáxias mais longínquas ou ao passado remoto.
Paradoxos? Quais paradoxos?
E no meio de tudo isto, ainda descobrem quem é e onde está (mas não propriamente o que faz) o tipo que gere o Universo.
Este segundo romance da série continua a ser muito divertido, e desta vez tive o prazer adicional de ainda não o ter lido, nem sequer parcialmente, portanto todos os gags serem novos. Mas há nele algumas diferenças relativamente ao primeiro. Numa palavra: é melhor. E não sou só eu que o digo: o próprio Adams, rezam as crónicas, também achava. Toda a razão, amigo Douglas. Este livro, mantendo embora um certo caráter episódico, é no entanto significativamente mais coeso do que o primeiro e, em parte por isso, também está bastante mais bem escrito. A própria ironia parece ser aqui mais fina do que no primeiro livro, e os conceitos de ficção científica também me parecem mais sólidos e sofisticados. Ou seja, tudo está aqui mais bem equilibrado, mais bem desenvolvido, e o resultado é um romance francamente bom. E divertido.
Que pena que os outros três ficaram pelo caminho... Talvez um dia, quem sabe?
Mas a verdade é que nada disso importa.
O que realmente importa é saber quantos são seis vezes nove.
Este livro foi comprado.
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