O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam é mais um conto sofisticado de Jorge Luis Borges que, de novo, não sendo propriamente ficção científica, tem bastantes pontos de contacto com o género. Superficialmente é uma história de espionagem ambientada durante a I Guerra Mundial e protagonizada por um espião chinês, Yu Tsun, ilustre descendente de um mais ilustre ainda antepassado, que teria abandonado tudo, riquezas, cargos e honrarias, para escrever um livro e/ou um labirinto. Mas logo abaixo da superfície, é uma exploração bastante sólida da ideia do tempo não-linear que tantas histórias de ficção científica nos deu. Está aqui quase tudo o que está na base dos infinitos universos alternativos com as suas linhas temporais alternativas, gerados com base na infinitude de escolhas que o acaso ou a vontade das criaturas está constantemente a fazer. A literatura marca presença, como é habitual em Borges, e o livro que o antepassado do protagoniasta escreve não só serve de parábola às ideias cosmológicas contidas no conto, como faz subtil referência a algumas obras fictícias contidas em outros dos contos deste mesmo livro.
Borges não se limitou a escrever contos: criou com eles labirintos. Ou talvez jardins com caminhos que se bifurcam. É isso, mais que tudo o resto (e o resto é tanto), que faz realmente cair o queixo de assombro.
Contos anteriores deste livro:
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