Mãe Genoveva é um conto com muito de neorrealista sobre uma mulher, a Mãe Genoveva do título, cuja vida se altera profundamente quando perde um filho, o seu Vicente, num acidente de trabalho numa fábrica. E é aqui que este conto de Vergílio Ferreira se afasta dos últimos, pois o fantástico assoma subtilmente quando aparece na narrativa outro filho, outro Vicente, cujo crescimento a mulher acompanha como se realmente seu filho fosse. Mas há aqui uns detalhes que sugerem que não senhor, esse fantástico é mais aparente que real, e de Vicente o novo Vicente só tem mesmo a vontade de lutar por um mundo melhor. Até que um dia desaparece e é substituído por outro, e por outro, e por muitos outros que Genoveva acolhe maternalmente, transformando-se numa base de apoio para a luta clandestina em tempos de fascismo. Tudo subtilíssimo, tudo, no fundo, todoroviano, pois a dúvida nunca anda muito longe da interpretação, o que as muitas imagens poéticas da prosa de Vergílio Ferreira só realçam. Que tenha de facto havido mulheres assim, algumas levadas ao combate por um sentido de justiça violentado, outras por tragédias pessoais ou familiares provocadas pela repressão e pela exploração, só solidifica melhor a personagem. Sim. Este conto é realmente bom.
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