segunda-feira, 31 de julho de 2017

Lido: E Atenção: Notícia Urgente!

Pelo menos desde o dr. Frankenstein e o seu monstro, a ficção científica está repleta de histórias cautelares sobre os avanços cientifico-tecnológicos quando não vêm acompanhados por uma ética rigorosa, ou quando, simplesmente, escapam ao controlo dos seus criadores. E não me refiro apenas às múltiplas histórias sobre cientistas loucos, embora estas também se insiram neste grupo. Falo dos milhares de histórias que mostram as coisas a correr mal por causa do impacto de alguma nova tecnologia ou de alguma experiência. É natural que sejam tantas, visto a FC lidar com a ciência e a tecnologia e, como qualquer escritor iniciante sabe, histórias em que as coisas correm mal tendem a ser bastante mais interessantes do que histórias em que tudo corre bem. Mas isso tem consequências, e algumas são sérias. Vou falar em breve aqui na Lâmpada de algumas dessas consequências, porque tenho andado a ler uns artigos científicos muito interessantes. Depois explico. Por agora fica este preâmbulo só para dizer que:

E Atenção: Notícia Urgente! (bibliografia) é mais uma dessas histórias. Uma história extremamente cínica, que abre numa reportagem de uma estação de rádio, acompanhada por uma entrevista com o cientista responsável, sobre um grupo de ativistas contra os organismos geneticamente modificados que se manifesta à porta de uma estufa onde se desenvolve pesquisa sobre esses organismos. Romeu Martins faz tudo degenerar num paroxismo de violência, que interrompe a emissão de rádio, passando depois a uma segunda parte composta por uma conversa entre o cientista entrevistado na primeira parte e um empresário, na qual ficamos a saber que tudo, violência incluída, foi uma experiência com vista ao desenvolvimento de uma arma. Nem cientista nem empresário mostram o mais leve sinal de escrúpulos. As centenas de mortes e a destruição de uma instalação de pesquisa? Danos colaterais, insignificantes perante os lucros potenciais.

Não foi conto que me tivesse agradado muito. Há no distanciamento primeiro do relato radiofónico e depois da conversa fria entre os dois responsáveis, algo que a meu ver enfraquece a história. Ela seria mais forte (mas também mais longa, o que me parece ter sido um fator tido em conta na decisão de escrever a história assim) se tivesse personagens diretamente envolvidas nos acontecimentos, que os sentissem na pele. Assim, ficamos com alguns infodumps, um relato em geral distanciado de toda a verdadeira ação que o conto contém e com uma conversa entre dois sociopatas, na qual recebemos mais infodumps. Não me agrada particularmente. Não é um mau conto, até é um conto interessante, mas não me parece que chegue a ser bom.

Contos anteriores deste livro:

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