Aos moribundos, conta-nos o mito, passa-lhes a vida inteira perante os olhos nos momentos que antecedem a morte. É esse mito, parece, que inspirou Augusto Abelaira a escrever este solilóquio que intitulou de Ode (Quase) Marítima, no qual um homem, um velho, matuta sobre a vida que viveu enquanto o seu cérebro vai aparentemente sendo consumido por um derrame. Não foi texto que me tenha agradado por aí além. Em parte por isso mesmo, porque a ideia já está muito vista, porque solilóquios de moribundos existem aos pontapés na literatura. Em parte porque Abelaira usa aqui um estilo que com toda a franqueza me irrita, entrecortando o texto com uma quantidade apreciável de apartes entre parênteses cuja frequência, curiosamente, vai diminuindo para o fim da história, o que sugere que até ele se foi fartando. E em parte porque é história sem história, sem sombra de enredo, um longo fluxo de consciência, ou talvez de inconsciência, que poderia ser apelativo se ao menos me tivesse conseguido despertar alguma espécie de interesse pelo protagonista. Não conseguiu. Fica um bom tratamento da língua e pouco mais. Há leitores para quem isso basta. Há leitores, até, para quem isso é tudo. Não sou um desses leitores, nem dos primeiros nem muito menos dos segundos.
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