O que diria o Diabo, esse mesmo, o Mafarrico, o Coisa-Ruim, o isto e aquilo que o panteão cristão (e não só) desterrou para as fogosas profundezas do Inferno, se alguém lhe pedisse opinião sobre o que dele se vem dizendo por aí ao longo dos séculos? Coisa boa não seria de certeza, certo? Aliás, todos nós faremos uma ideia razoavelmente segura dos argumentos de tal criatura que, com grande probabilidade, não andarão longe dos que João Cerqueira aqui apresenta.
E talvez seja precisamente por aí que este livrinho (sim, "inho", que são meras 45 páginas num tipo que ainda por cima é razoavelmente corpulento) mais peca, com perdão da graçola (pecar, topam? Hi hi hi... Hi... OK, desculpem). É que o que o Diabo nos diz nestas Reflexões do Diabo (bibliografia), quase sempre, são coisas que criaturas bem menos diabólicas, bem humanas, feitas de carne, osso e algumas ideias, vêm dizendo há séculos. Elaboraram-se teologias inteiras com base nessas coisas e quando se saiu do âmbito teológico também serviram de base a muita filosofia. Pois o tema será superficialmente a defesa do Mafarrico, mas na verdade é da natureza humana e as suas falhas e insuficiências que se trata, as quais o diabólico narrador assaca, com total naturalidade, a outrem e que, no fundo, bem conhecem todos os que nutrem alguma curiosidade pelo mundo e as criaturas que nele habitam. Só chocará minimamente, julgo eu, quem pelos dogmas religiosos sinta verdadeiro fanatismo. Bem sei que existem, mas está muito longe de ser o meu caso.
Nada há aqui, portanto, de muito novo. Há uma forma humorística de apresentar as coisas, que por vezes tem real graça, há um texto com qualidade, há as ilustrações de Horácio Frutuoso, bastante interessantes mesmo que por vezes pareçam não ter muito a ver com o texto, três coisas a elevar este livro acima da mais completa banalidade. Mas não muito acima, infelizmente. Foi livro que soube a pouco, e não só pela extensão.
Este livro foi, se bem me lembro, oferta no âmbito da promoção "pague 2, leve 3" que a editora faz há largos anos. No fundo foi comprado, portanto.
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