domingo, 23 de julho de 2017

Lido: O Homem

Sophia de Mello Breyner Andresen ganhou renome nas letras portuguesas por via da sua criação poética, não da narrativa. E, se este O Homem é típico dessa vertente da sua obra, percebo bem porquê. A narradora em primeira pessoa é uma mulher que deambula pelas ruas da cidade e de repente depara com um homem, pobre mas belíssimo, que olha o céu, imóvel, como se fosse uma representação absolutamente óbvia (tanto que até tem citação bíblica a temperar o refogado) de Jesus Cristo. Sophia ainda remói um pouco, ainda põe a sua protagonista a andar para trás e para a frente, mas é desde logo evidente que acabaria por reencontrar o tal homem, ainda que não o fosse tanto o que aconteceria quando encontrasse. E o que acontece? Pois o homem cai ao chão num lago de sangue, fulminado sabe-se lá pelo quê, num tom de melodrama completo com orfãzinha e tudo (cuja única função na história parece ser amplificar a tragédia) e que a narradora procura alcançar mas sem nunca conseguir. Algo (no conto são os outros, mas serão mesmo os outros?) a impede de alcançar, de tocar Jesus, mesmo afirmando a rematar que ele anda por aí. Há de ser questão de fé.

E nem sequer se encontra neste conto aquele uso preciso da palavra em que os poetas costumam salientar-se, à parte algumas imagens de grande qualidade que sobressaem aqui e ali. No geral, o conto é quando muito mediano. Não fiquei nada impressionado.

Contos anteriores deste livro:

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