Loucura... (bibliografia), novela de Mário de Sá-Carneiro, é o primeiro texto realmente desenvolvido deste livro, e também o primeiro em que de facto se encontra um prosador no pleno domínio da arte narrativa. Começa como uma história mundana, ainda que com um protagonista invulgar. A história é muito à moda do seu tempo: narrada na primeira pessoa por um narrador cuja função é principalmente observar o que se vai passando com gente das suas relações, tem por protagonista um seu amigo, iconoclasta, original, cheio de ideias muito suas e de talento, e a novela vai-lhe acompanhando a vida ao ritmo das aproximações e afastamentos entre os dois amigos.
Começando de forma quase luminosa, cheia até de ironia, a novela vai tomando tons mais sombrios à medida que a loucura do protagonista se torna cada vez mais clara, culminando com o seu suicídio, como aliás, é afirmado logo a abrir. Em certo sentido, esta história pouco mais é do que o desenvolvimento e aprofundamento, particularmente o psicológico, das histórias esboçadas nos quatro diários anteriores. Em certo sentido, porém, é uma criatura completamente diferente, e muito melhor, não só por causa desse desenvolvimento, como porque aqui, finalmente, Sá-Carneiro controla os excessos histriónicos das primeiras prosas e afasta-se da banalidade trágica que elas tantas vezes mostraram. Esta novela é realmente boa, uma obra maior.
E é também uma novela de horror, ainda que pareça não passar de uma história mundana quase até ao fim.
Contos anteriores deste livro:
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