sábado, 10 de fevereiro de 2018

Lido: O Poder da Leitura

Em O Poder da Leitura, Ana Cristina Luz apresenta uma historinha pós-moderna, daquelas que fazem referência tão direta a obras anteriores que exigem a leitura destas para sua compreensão plena. A história é a de um miúdo que mergulhava na literatura de uma forma extraordinariamente profunda, a ponto de ter desaparecido depois de ter recebido de presente um certo livro de Paul Auster. Quem tivesse lido esse livro teria obtido mais da leitura deste continho do que eu obtive. Presumo. Como não o li, não posso ter certeza, mas é essa a impressão com que fiquei da informação que obtive quando fui à procura dele, e esse é um problema genérico desta abordagem autorreferencial à literatura: quando se fecha demasiado este tipo de círculos literários, está-se na prática a escrever apenas para iniciados (ou para aqueles que gostam o suficiente do exercício para se sentirem tentados a iniciar-se) e arrisca-se a alienação de uma maioria mais ou menos vasta consoante a obra referenciada é menos ou mais lida.

Além disso, mesmo sem contar com isso este conto não me parece muito bom. A autora escreve demasiado, por estranho que isso possa parecer ao falar-se de um texto tão curto, introduzindo alguma palha num texto que teria mais impacto se fosse muito enxuto. Querem um exemplo para se perceber o que quero dizer? Seja. Eis o segundo parágrafo do conto:
Passados tantos anos, os pais continuam a tentar descobrir o que lhe aconteceu, uma busca que não terá fim até descobrirem o seu destino.
Estão a ver a parte que assinalei a itálico? Para que serve? Não é o que os pais fazem quase sempre? E não é óbvio que se passados muitos anos a busca continua ela irá continuar por outros tantos ou mais? Ora, como este não é o único exemplo que eu poderia ter dado, não creio que este conto ultrapasse o razoável.

Contos anteriores deste livro:

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