Já aqui falei várias vezes daqueles contos centrados na infância e nas cidadezinhas do Midwest norte-americano, que Ray Bradbury escreveu com tanta frequência, quase invariavelmente ambientados no verão ou no outono. Alguns desses contos são de um horror suave, enraizando-se no imaginário do Halloween e no seu cortejo de monstros e bruxos que em Bradbury são quase sempre de bom coração. Outros aproximam-se mais da ficção científica e mostram-nos pais que lutam por apresentar o mundo a filhos sonhadores, repletos de futuro, de uma forma tal que não lhes destrua o sentido da maravilha. Outros ainda nada têm de fantasioso, são puro mainstream, conhecidas pelo termo americana.
Este O Som do Verão Correndo é uma destas últimas histórias. O protagonista é um miúdo que, ao chegar o verão, cobiça intensamente uns sapatos desportivos que vê numa sapataria. Mas os pais não nadam em dinheiro e recusam-se a comprá-los e a história conta a forma como o rapaz tenta arranjar maneira de conseguir deitar-lhes a mão. Trata-se de um conto sem grandes surpresas (ou sem nenhumas para quem já conhece razoavelmente bem a obra do escritor), cujo ponto forte é o texto de Bradbury e a poesia em que envolve as histórias mais banais, que é o que esta é. Uma história banal sobre uma situação banal, com personagens banais e sem nada de extraordinário a apimentá-la. Está bem escrita e bem concebida, mas também está muito longe do melhor que Bradbury produziu.
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