Entre sugestões de um Estado totalitário, Clóvis Garcia leva-nos com este seu O Velho a um futuro em que os velhos deixaram de ser uma visão comum nas ruas da cidade por se retirarem voluntariamente da sociedade, passando a viver em centros onde têm ao dispor tudo aquilo de que necessitam. Todos? Não. O velho que protagoniza esta história é uma exceção, recusando-se a essa forma de apagamento social, preferindo uma vida solitária mas livre, mesmo com dificuldades, à prisão dourada dos da sua geração. Mas o que faz mover o enredo não é isso: é o homem ter encontrado numa loja de antiguidades um velho androide, tão obsoleto como ele, mas proibitivamente caro, o que não impede que desperte uma espécie de paixão, ou simplesmente a necessidade de companheirismo, e que o velho vá passar a fazer os possíveis e os impossíveis para conseguir comprar a antiguidade.
É uma história bastante boa, esta. Há nela qualquer coisa de Bradbury, e também qualquer coisa de Asimov (fez-me lembrar um pouco O Homem Bicentenário, ainda que os enredos sejam bem diferentes), numa daquelas ficções científicas sociais cujo âmago é a condição humana. Neste caso, a parte da condição humana que se prende com o fim da vida e a solidão e desadaptação que ele acarreta. É também uma história bastante bem escrita e narrada com mão segura, que envelheceu muito bem. Muito melhor que o protagonista. Aprovado.
Contos anteriores deste livro:
Sem comentários:
Enviar um comentário
Por motivos de spam persistente, todos os comentários neste blogue são moderados. Comentários legítimos passam, mas pode demorar algum tempo. Como sempre acontece, paga a maioria por uma minoria de abusadores. Parece ser assim que o mundo funciona, infelizmente.