O Espelho da Marquesa (bib.) é uma noveleta de Gomes Leal que tem muito pouco a ver com o fantástico da coleção em que o livro a que pertence foi incluído. Trata-se de uma história romântica e, claro, trágica, ambientada na alta sociedade lisboeta do século XIX, e contada por um homem que se apaixona perdida mas platonicamente por uma marquesa. Já se sabe que nas histórias tragico-românticas novecentistas raramente as paixões dão bom resultado, especialmente as platónicas, e esta história segue à risca esse padrão; o interesse do protagonista pela mulher vai fazer com que a observe, e esta observação vai levar à revelação de um crime, com as trágicas consequências que é fácil prever.
Apesar do convencionalismo e da linguagem empolada, apesar da previsibilidade do desfecho, apesar, sobretudo, do romantismo de tudo aquilo, acabei por não desgostar por completo desta história porque a forma como o protagonista vai desvendando o crime tem interesse. E está bem escrita, para quem gosta de prosa poética. E Leal consegue aqui fazer com que esta não se intormeta muito no desenrolar da história, ao contrário do que muitas vezes acontece, em especial em autores pouco experientes ou pouco talentosos. E isso também é positivo.
Quanto ao género, há apenas leves alusões ao sobrenatural que talvez permitam incluir esta história na literatura fantástica tal como foi definida por Todorov, embora pessoalmente me pareça que ela tem os dois pés fora do género, com não mais que uma unha dentro. Uma unha cortada rente.
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