Por vezes surge em alguns textos a fantasia de que as revistas mais importantes do género estão imunes à publicação de histórias fracas e são impenetráveis para estreantes. Comprovando que não é bem assim, este Aos Olhos de um Alienígena (bibliografia), publicado originalmente na Asimov's, como julgo que aconteceu com todos os contos não brasileiros que saíram na Isaac Asimov Magazine, é a primeira história de FC da autora, Hilary Rettig. Mais do que isso, até: é a única história de FC que a autora escreveu. Ou pelo menos a única que conseguiu publicar.
E é uma história perfeitamente dispensável. Passado na Lua, o conto centra-se no dilema sentimental de uma adolescente que se recusa a aceitar que a irmã mais velha está perdida para a família depois de ter decidido viver na superfície e sofrer as profundas alterações fisiológicas e psicológicas que tal decisão acarreta. E aqui chegado, o leitor com alguns conhecimentos biológicos coça a cabeça, perplexo, faz muita força para conseguir manter a suspensão da descrença, mas acaba por desistir, impotente. A ideia é tola. E o que Rettig faz com ela é irrelevante. Não seria necessário subir até à Lua e criar um ambiente alienígena (muito pouco sólido, diga-se) para apresentar uma historinha cheia de angst adolescente sobre o afastamento fraternal.
Ao menos Heinlein, quando escreveu o seu Estranho Numa Terra Estranha, que serviu claramente de inspiração para a parte de alteração humana desta história, pôs o Valentine Smith a nascer em Marte e a ser criado por marcianos, logo a ser influenciado pelo ambiente local desde a mais tenra infância. Não a metamorfosear-se por completo em quatro ou cinco anos, já depois da puberdade. E já para não falar de usar esse seu humano alienígena para uma série de provocações e críticas que têm como alvo a sociedade terrestre do seu tempo, em muito em particular as religiões (ou as seitas se preferirem) que tendem a brotar como cogumelos sempre que o terreno se deixa fertilizar um pouco. Rettig não faz nada disto, não vai ao fundo de nada, limita-se a produzir uma historieta superficial sem nada que a torne memorável. Uma história muito pior do que as que a antecederam.
Uma história fraquinha, muito fraquinha.
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