Sara Farinha apresenta uma história que, apesar de envolver a criação (frustrada) de um portal entre o nosso mundo e uma qualquer dimensão aparentemente demoníaca, A Passagem Secreta (bibliografia) do título, é mais fantasia urbana do que propriamente horror porque a autora não conseguiu conferir-lhe emoção. Ambientada em contexto de praxe académica, esta é a primeira das histórias deste livro de que não gostei mesmo. Em parte por pouco haver nela de novo, pouco passando de uma reutilização pouco imaginativa de velhos clichés. Em parte porque a história está mal construída para um conto tão pequeno, perdendo-se em descrições que não estariam deslocadas numa história mais longa mas aqui estão, e depois parecendo não ter espaço para desenvolver a história propriamente dita de forma a dar alguma potência ao desfecho. E numa terceira parte porque o próprio português é fraco. Exemplificando. «Observei-o enquanto o livro ocupou novamente o seu espaço» é mau português; em vez de ocupou devia estar ocupava. «E sem querer deixei-o escorregar das minhas mãos» também não é grande coisa; aquele minhas é desnecessário porque quando deixamos escorregar algo das mãos subentende-se que é das nossas, o que é comummente ignorado por autores com carência de leitura de boas obras escritas em bom português e com excesso de consumo de material em inglês, língua que, ao contrário da nossa, exige esse tipo de construção. E como há mais coisas destas espalhadas por todo o texto, o resultado final não me pareceu satisfatório.
Contos anteriores deste livro:
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