Jorge Cubría foi de uma forma muito clara influenciado pelas ficções robóticas de Asimov. Não que neste seu Padre Chip haja cérebros positrónicos ou Três Leis, mas toda a atmosfera, parte do enredo e até o estilo literário desta história tem fios de influência claríssimos que a ligam a histórias escritas décadas antes pelo "bom doutor". E essa é uma das suas fragilidades.
O conto divide-se em duas partes. A primeira, em diálogo quase puro, é uma discussão filosófico-teológica sobre a possibilidade ou impossibilidade de um robô se tornar padre, espelho quase direto de discussões semelhantes que vão decorrendo há muitas décadas sobre a ordenação de mulheres, por exemplo. Não há nesta troca de argumentos, portanto, nada de particularmente novo, nem mesmo quando se analisa diretamente a questão da capacidade de máquinas pensantes para desempenharem funções que geralmente julgamos reservadas a seres humanos; o próprio Asimov, afinal, ajudado ou não por Silverberg, debate profundamente tais questões em livros como O Homem Positrónico.
E a segunda parte parece decalcada, com pequenas variações, do enredo das histórias centradas em R. Daneel Olivaw, o arco narrativo que Asimov criou para ligar as histórias de futuro relativamente próximo que escreveu sobre robôs às de futuro distante da série Fundação.
O resultado é uma história derivativa e antiquada (já o era em finais dos anos 90, mais o é hoje), escrita num estilo literariamente pobre, que traz muito poucos motivos de interesse para quem esteja familiarizado com a obra de Asimov. Poderá interessar aos outros, eventualmente mas, se me permitem um conselho, na escolha entre este conto e os do americano deem prioridade a Asimov. Ficam melhor servidos.
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