terça-feira, 17 de abril de 2018

Lido: Nas Catacumbas

Depois de um conto algo clandestino do organizador, quem nesta antologia apresenta o primeiro conto totalmente assumido como tal é Luiz Bras. Fá-lo com uma vinheta de uma página intitulada Nas Catacumbas, uma peculiar história de invasão alienígena que tem na forma como está escrita o seu ponto forte. E atenção que a fruição plena desta história depende do progressivo desvendar do que se passa e é impossível falar dela sem revelar o que se passa, portanto aconselho vivamente que todos os que não queiram ficar a saber detalhes sobre o enredo saiam daqui e vão ler outra coisa qualquer. Ou seja:

SPOILERS

Estão avisados, portanto siga.

A ideia de uma espécie alienígena devoradora de memórias não é propriamente original, nem mesmo na FC lusófona (o João Barreiros usa-a também muito bem no Disney no Céu Entre os Dumbos), mas aqui está aplicada muitíssimo bem, numa prosa de grande qualidade, que usa a capacidade evocativa da poesia para amplificar o efeito. É um caso de forma literária certa aplicada da melhor maneira ao enredo. Este é um relato de progressiva desmemoriação, através do qual se contam meio expressamente, meio nas entrelinhas, os principais acontecimentos da invasão dos extraterrestres e as consequências que ela teve. No meio de tudo isto, ainda há tempo para a evocação da memória da figura paterna, para uma cambalhota conceptual que deixa na dúvida (ou não) quem são realmente os alienígenas nesta história e para uma reflexão sobre a vida e a morte. Tudo numa só página.

Um conto excelente.

Conto anterior deste livro:

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