terça-feira, 24 de abril de 2018

Lido: Perdidão

Não se fala o suficiente da eficácia na literatura; devia falar-se mais. Quando os textos literários fazem precisamente aquilo que pretendem fazer são eficazes e pelo menos essa qualidade têm, mesmo quando não têm mais nenhuma. Há outros textos que, pelo contrário, até podem ter todas as qualidades do mundo mas não conseguem cumprir aquilo que se propõem alcançar.

Esta questão da eficácia é particularmente importante em textos ultracurtos, onde não há espaço para grandes elaborações de enredo, caracterização e etc. E é precisamente um texto desses que Claudio Parreira apresenta aqui.

Perdidão é uma historinha de pouco mais de meia página que pretende usar uma invasão alienígena para divertir e para fazer crítica social. Os ETs de Parreira aterram no Brasil e o seu protagonista e narrador é um videirinho, sempre atento às oportunidades que se lhe apresentam. No caso, uma nave espacial novinha em folha, ali mesmo à sua frente, à mão de semear. Nem é preciso pensar duas vezes, não é?

Este é um continho muitíssimo eficaz. É francamente divertido e surra com um certo carinho a espécie de burro que retrata. Sim, que só um idiota acharia boa ideia gamar uma nave espacial alienígena, cujo funcionamento se desconhece por completo. As coisas correm mal, evidentemente. E também isso é divertido.

Só o discurso direto da narração não é muito credível: é português demasiado correto. Mas aceita-se: neste tipo de coisa há que arranjar um equilíbrio qualquer entre a fidelidade à personagem e a inteligibilidade. Parreira preferiu esta última; eu, enquanto português, até agradeço.

Em suma: um bom conto.

Contos anteriores deste livro:

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