quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Irmãos Grimm: A Água da Vida

Depois de uma quantidade assinalável de contos que os Irmãos Grimm parecem ter-se limitado a transcrever mais ou menos no estado em que lhes foram transmitidos, ainda que não seja de afastar a hipótese de muitos deles terem recebido retoques estilísticos para melhor se adequarem a uma publicação destinada a ser lida, eis que reaparecem as histórias que os irmãos (ou um deles, pelo menos) terão criado, ou recriado, a partir de fontes díspares.

Um título como A Água da Vida facilmente identifica o que aqui podemos encontrar. Ou pelo menos identifica facilmente para qualquer pessoa com um pouco de experiência na leitura de histórias de fantasia ou maravilhoso, e/ou de cultura geral, visto que este tema da água que dá vida tem sido muito usado, sob as mais variadas formas, e constitui parte do substrato cultural de, pelo menos, qualquer europeu. A celebérrima fonte da eterna juventude, afinal, não passa de uma variante desta ideia, não é?

Encontramos aqui um rei moribundo com os três filhos da praxe. Estes, ao ouvirem falar de um lugar distante onde existe uma água milagrosa que cura qualquer doença, resolvem partir à procura dela. Um de cada vez, como é da praxe, porque quem parte primeiro não regressa, também como é da praxe. A leitura do conto explica porquê, e ninguém que tenha lido os contos anteriores se surpreende com o motivo: os irmãos mais velhos são arrogantes e caem vítimas dessa arrogância e da vingança de quem é alvo dela. Mas o mais novo é um porreiro, resolve o assunto e fica tudo bem, como quase sempre.

Este é um conto com o seu interesse, especialmente se lido isoladamente de todos os outros. É que no contexto dos restantes contos traz demasiados elementos repetidos para evitar uma certa sensação de mesmice. É o principal problema que encontro nesta literatura popular, quando vista da perspetiva de simples leitor: um leitor quer ser surpreendido, e estes contos reutilizam-se e vampirizam-se tanto uns aos outros que ao fim de algum tempo já começam a parecer todos iguais.

Ou, vá, muito parecidos.

Contos anteriores deste livro:

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