Ninguém estava nada à espera que uma antologiazita de Contos Românticos incluísse um intitulado, muito simplesmente, Amor, pois não? Claro que não. E é um bom conto, apesar de, mais uma vez, estar bem longe do tipo de história que geralmente me interessa. É bom porque Anton Tchekhov arranja um protagonista apaixonado por uma mulher que nada parece ter a ver com ele e consegue com isso gerar uma tensão narrativa que numa história destas seria difícil arranjar de outra forma. E porque no fim a resolve muito bem.
Bem, quando digo que seria difícil arranjar de outra forma quero dizer principalmente que seria difícil fugir ao habitual cliché deste tipo de contos: a história ser propulsionada por um dramalhão qualquer de faca e alguidar, pronto para deixar todos os coraçõezinhos sensíveis a despejar uma torrente de lágrimas aorta acima.
Aqui, felizmente, não temos nada disso. Tchekhov passa o conto inteiro, enquanto relata várias peripécias do noivado e do casamento, a explicar por que motivo o seu protagonista nada tem em comum com a mulher. O desfecho parece óbvio: a desistência do casamento, ou o divórcio caso a coisa se prolongue o suficiente. Em suma, cada um para seu lado e façamos de conta que nada aconteceu. Mas o desfecho não é esse. Tchekhov consegue, sem ser minimamente lamechas nem recorrer àqueles exageros sentimantaloides que tornam insuportável a maior parte da literatura romântica, passar a ideia de que o amor verdadeiro é superior a tudo, incluindo às maiores incompatibilidades de caráter.
Este é um conto muitíssimo bem construído. Sim senhor. Se tivesse chapéu tê-lo-ia tirado.
Contos anteriores deste livro:
Sem comentários:
Enviar um comentário
Por motivos de spam persistente, todos os comentários neste blogue são moderados. Comentários legítimos passam, mas pode demorar algum tempo. Como sempre acontece, paga a maioria por uma minoria de abusadores. Parece ser assim que o mundo funciona, infelizmente.