Se com o conto anterior Luiz Bras não conseguiu satisfazer por inteiro o meu gosto de leitor, com este Bilhetes volta a atingi-lo em cheio.
É um conto profundamente kafkiano no que o termo implica de labirintos aparentemente sem saída e de absurdo nas tarefas burocráticas. Mas não é kafkiano nos pormenores que formam o pano fundo da história; esses têm mais a ver com Dick, mais uma vez. É também um conto muito curto, um daqueles contos de situação sem um enredo propriamente dito, ou por outra, com um enredo implícito mas não explícito. E sim, vêm aí spoilers.
Um analista trabalha afincadamente num edifício cheio de outros analistas. Todos têm uma só função: procurar, em resmas de papel aparentemente intermináveis, uma sequência de cinco números cinco. Porquê? Porque isso seria indicação de que a máquina do tempo está funcional. Mas ninguém encontra essa sequência. Mais: ninguém encontra um só cinco para amostra. E as teorias mais ou menos conspirativas abundam. Isso e os colapsos nervosos que levam os analistas a saltar pela janela.
O que este conto tem de realmente bom é o ambiente opressivo e paranoico que Bras consegue criar em meras quatro páginas e a forma como deixa implícita uma história muito maior do que aquela que conta, com uma economia de palavras muito bem conseguida. Não será conto para todos os leitores: há quem não goste desta forma de contar histórias. Mas é conto para mim. Bastante bom.
Contos anteriores deste livro:
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