Philip K. Dick ganhou renome mundial, entre outras coisas, pela forma como muitas das suas histórias apresentam uma realidade de alicerces corroídos, instáveis, prestes a desfazer-se em sucedâneos mais ou menos alucinatórios regados a paranoia. E Luis Bras, nesta Nuvens de Cães-Cavalos, faz o mesmo, juntando-lhe um burilamento literário a que Dick pouca importância dava.
O ambiente é um aeroporto num futuro indeterminado mas próximo, ou talvez num presente paralelo. Ou até, quem sabe, numa simulação habitada por simulacros. O protagonista é um homem que mostra desde as primeiras linhas sinais claros de paranoia («não havia ninguém me vigiando, quero dizer») e se prepara para uma viagem que não deseja fazer. Mas encontra uma rapariga misteriosa e suicida, que se calhar nem sequer existe, e isso vai fazê-lo repensar os planos e a vida. Ou talvez não.
É tudo muito nebuloso nesta história de ficção científica bem soft. Tudo muito dickiano. Muito alucinatório. Tudo muito bem escrito, também. Mas não gostei tanto dela como de algumas das anteriores. Sim, é verdade que o efeito que Bras quer alcançar está bem alcançado, mas não encaixa tão bem na minha sensibilidade literária como a maior parte das histórias anteriores. É um bom conto, sem dúvida, mas não é um conto que me tenha agradado muito.
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