Deste Virtuais gostei menos do que dos contos anteriores, não necessariamente porque seja um conto pior do que eles (ainda que me pareça que realmente é, o que não implica que não seja bom), mas sobretudo porque regressa a um tema que parece ser muito recorrente nas ficções de Luiz Bras, o que lhe retira parte da frescura — para quem conhece outros exemplos, pelo menos — e portanto do interesse.
É uma história que se passa num futuro bastante próximo, no qual as redes sociais constituem um quinhão ainda superior da vida de todos os dias do que aquele que ocupam hoje. E acompanha a relação entre um homem e uma desconhecida que encontra (ou que o encontra) numa espécie de facebook aditivado. Uma relação repleta de urgência. E sabem que vai haver spoilers, certo?
É que há um problema: a desconhecida diz que está sozinha no mundo. Que todos desapareceram. Que só o conseguira contactar a ele. E pede ajuda urgente porque tem medo de também ela (ou ele) desaparecer como todos os outros. Ele, claro, não acredita... até que acredita. Mas aí é capaz de já ser tarde demais.
Como eu já tinha lido um livro inteiro de Luiz Bras baseado nesta premissa de alguém ficar sozinha no mundo (ou quase), o romance Sozinho no Deserto Extremo, vi este conto mais como uma variação do mesmo tema, ainda que com um substrato algo diferente, do que como obra realmente autónoma. Aqui, no entanto, existe uma crítica e uma ironia que no romance são bastante menos claras. Bras está praticamente a dizer aos seus leitores que se mergulharem demasiado fundo nas redes sociais arriscam-se a desaparecer, a deixar a Terra entregue às baratas. Mas existe também no conto uma ironia secundária que não sei se terá sido inteiramente voluntária: é que a última forma de contacto humano possível no mundo que Bras aqui cria é... uma rede social.
Este é um bom conto, não há qualquer dúvida quanto a isso. Não gostei tanto dele como dos dois anteriores, mas é um bom conto.
Contos anteriores deste livro:
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