Um Leque, é mais um dos muito bem escritos contos de Armando Silva Carvalho. À primeira vista, trata-se de um finamente irónico continho a troçar das convenções da escrita oitocentista; ele é "A." que faz avanços sentimentais, ele é "F." que manda deter uma carruagem, e por aí fora. Há, porém e em contraste com o resto da bem comportada prosa, sexo com fartura, implícito mas também explícito. E mais do que uma referência a Renoir. No fim, aparece-nos o anacronismo de carros barulhentos e fumegantes. O conto pode, portanto, ser também visto como um conto fantástico, quiçá uma viagem no tempo, quiçá as observações de alguém que andou a passear por dentro de um quadro, testemunhando as pequenas historietas que ele conta, até se ver devolvido à poluída realidade contemporânea. Bem vistas as coisas, é disso mesmo que aqui se trata: de alguém que se deixou imergir num quadro durante algum tempo e depois regressou a si mesmo. Bastante bom enquanto conto sobre as delícias do escapismo intermediado pela arte. Mas como conto de humor, pois é numa antologia de humor que se insere, não me convence.
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